terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Votos de um Feliz Natal, e de um Prospero Ano Novo 2011

Aproxima-se mais uma época festiva, como tal, não poderia deixar de desejar a todos os meus leitores e amigos, votos de um Bom Natal e um Próspero Ano Novo, apesar das perspectivas não serem das melhores... É preciso olhar-se em frente, e continuar com determinação rumo ao Futuro.

E nada melhor para acompanhar estes meus votos do que um interessante cartão de Boas Festas da Biblioteca dos Operários e Empregados da Sociedade Geral:



Acompanhado de um pequeno envelope, ainda por escrever:


Esta Biblioteca foi fundada em 1947, fruto de uma ideia dos empregados e operários do Armazém B, interessados em constituir uma associação com fins culturais e educativos. Contudo será só em 1949 que esta associação é provida de Estatutos, de forma a poder integrar oficialmente, o então esquema corporativo, exigido pelo Estado. A sua sede ficava na Rua das Janelas Verdes.

São-nos ainda apresentados interessantes dados do funcionamento desta obra, no "Manual do Pessoal e da Empresa da Sociedade Geral" cuja publicação deve datar de 1967/68, podendo ler-se:

"A biblioteca da colectividade compõe-se actualmente de 3456 livros, abarcando os mais variados temas de literatura pura ou ciência.
Segundo dados colhidos, o seu movimento mensal anda à volta de 180 livros requisitados.
Todos os anos se valoriza o património com a compra de livros , cabendo à Direcção decidir a sua escolha; a esta preside um critério de equilíbrio tendo em conta os níveis intelectuais e as já conhecidas preferencias dos interessados.
A Biblioteca vive, no seu aspecto de receitas, da quotização obrigatória da massa associativa , actualmente de 478 sócios, e dos donativos ou outros rendimentos eventuais, que pelo seu carácter incerto não podem ser considerados no orçamento financeiro."

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Envelopes da CUF com franquias mecânicas

Aqui estão dois interessantes envelopes da Sede da CUF com as respectivas franquias mecânicas. De notar que no primeiro a Sede da empresa ainda se encontrava na Rua do Comércio, estando datado no carimbo a data de 17 de Junho de 1960. Como já aqui referi em post anterior a CUF vai mudar a sua sede para o nº 2 da Avenida Infante Santo em 1961, mudando também o visual dos seus envelopes estando este datado de 7 de Novembro de 1962.




quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A C.T.A. - Companhia de Transportes Aereos

Esta, é provavelmente uma das companhias menos conhecidas e faladas, que integrou o Grupo CUF, até pela sua singularidade. Quem é que afinal sabia que a CUF teve uma companhia de aviação? Arrisco a dizer que certamente serão poucas pessoas as que sabem tal facto, provando mais uma vez o pioneirismo da CUF em muitos sectores, até mesmo o da aviação. Pois bem, essa é a interessante e curiosa história que hoje aqui vos trago.

A 19 de Julho de 1945, a Sociedade Continental de Transportes Aéreos, é transformada na C.T.A. com o objectivo de explorar linhas aéreas no território nacional ou fora dele. Aquando da sua fundação o capital desta sociedade era de 5.000 contos, subscrito e divido pelos seguintes accionistas:

- Daun & Bleck, Limitada, 500.000$
- Carlos Eduardo Bleck, 250.000$
- D. José de Saldanha, 250.000$
- Manuel Augusto José de Mello, 300.000$
- Sociedade Geral de Comércio, Industria e Transportes Limitada, 2.000.000$
- José Inácio Castel-Branco, 100.000$
- Dr. Luiz Albuquerque de Sousa Lara, 300.000$
- Sousa Lara & Filhos Limitada, 500.000$
- Fernando Enes Ulrich, 100.000$
- Dr. António Garcês, 100.000$
- António de Sommer Champalimaud, 200.000$
- Dr. José de Sousa e Melo, 200.000$
- João Maria José de Mello, 100.000$
- Dr. Alvaro Belo Pereira, 100.000$

Como se pode ver pela lista atrás apresentada, vamos nela encontrar nomes sonantes da economia nacional, como António Champalimaud, a família Sousa Lara que detinha grandes investimentos no Ultramar, ou os Ulrich ligados a diversos interesses económicos. A maioria do Capital accionista (2.300.000$)é detida pela Sociedade Geral e Manuel de Mello, colocando assim esta Holding da CUF no comando desta nova empresa. Será no dia 2 de Dezembro de 1945 (4 meses após a constituição desta sociedade) era oficialmente inaugurada pelo Presidente da República Óscar Carmona e demais membros do Governo a carreira Lisboa-Porto-Lisboa. Apresenta nesse mesmo ano a filiação na I.A.T.A. (International Air Transport Association, que ainda hoje é a mais alta autoridade internacional do transporte aéreo) sendo esta aceite.

A sua frota era constituída por um Percival Proctor, e por três bimotores DeHavilland DH-89 cujas matriculas eram as seguintes: CS-ADI, CS-ADJ e CS-ADK, todos adquiridos na Inglaterra. Posteriormente um destes bimotores foi adquirido pela Aeronáutica Militar em 1950, podendo ser vista hoje no Museu do Ar em Sintra. Mais tarde são ainda adquiridos à Força Área dos Estados Unidos dois Douglas C-47A (CS-TDX e CS-TDZ) sendo a sua adaptação aviação civil sido feita por pessoal das Oficinas Metalomecânicas da CUF. A C.T.A. vai construir toda uma infra-estrutura de apoio as suas rotas aéreas, para isso constrói hangares privativos nos Aeroportos de Lisboa e Porto, com oficinas , armazéns, operações de voo, equipamento de rádio, salas de pessoal navegante, cantinas etc. Por essa altura o pessoal ao serviço da C.T.A. deveria de rondar o numero de 70 pessoas, numero que teria tendências a subir com a expansão da Companhia. Havia já planos de expansão delineados por fases, em 1946 o objectivo seria inaugurar uma carreira Lisboa-Madrid com um serviço diário, pedindo autorização para tal ao Governo, sendo esta recusada, ficando outros projectos na gaveta, como as Linhas Internacionais no Continente Europeu, e obviamente aquilo que então se designava pelas Linhas Imperiais de modo de ligar a Metrópole com as principais cidades do seu Ultramar. Para essa expansão tinha já a C.T.A. pensado adquirir 4 Douglas DC-4 "Skymaster" e também Douglas DC-6 aviões já de grande capacidade e com maior alcance aéreo.

Podemos dizer que à C.T.A. de certa maneira foram cortadas as pernas. Devido à politica do Governo, e de homens como o sobejamente conhecido Secretário da Aeronáutica Civil Humberto Delgado, preferiu-se reorganizar o Transporte Aéreo em Portugal, chamando as Autoridades tais responsabilidades, preferindo deixar cair a C.T.A. (talvez por esta estar nas mãos de privados) e criar assim os Transportes Aéreos Portugueses (T.A.P.) cuja metade do capital accionista estava nas mãos do Estado sendo o restante subscrito por privados. A linha Lisboa-Porto-Lisboa é suspensa em 1947, e a C.T.A. seria liquidada definitivamente em 1949.

E desta efémera e interessante história falta apresentar um interessante e raro lote de documentos respeitantes a esta empresa, isto porque uma tal Madame Silva (que é como está escrito no bilhete) que na epoca tinha 23 anos, guardou tais documentos, talvez como recordação, e assim chegaram ás minhas mãos, sendo um testemunho da breve história da C.T.A. Para ver em detalhe basta clicar nas imagens para ver em tamanho ampliado.


A Capa do Mapa com a Viagem a ser efectuada pelo avião

Contracapa do Mapa

Mapa da Viagem

Capa do Bilhete

Talões do Bilhete

Custo do Bilhete (303 escudos em 1946)

Talão de Bagagem (frente)

Talão de Bagagem (verso)

Esta senhora que viajou para o Porto, fez um Seguro Pessoal de Transportes Aéreos, e qual seria a companhia? Só podia ser a Império claro! Sendo também ela pioneira neste tipo de seguros, o custo do mesmo já com todas as despesas incluídas era de 20 escudos. Aqui fica o envelope enviado pela C.T.A. com a respectiva apólice e o cartão de cumprimentos da seguradora



Apólice (frente)

Apólice (verso)

Cartão de Cumprimentos

Bibliografia:

- Estatutos da C.T.A.
- Relatórios de Contas da C.T.A.
- Boletim da C.T.A. (1946)
- Historia da Aviação Civil em Portugal