sábado, 23 de junho de 2018

Menú da Inauguração do Estaleiro da Margueira

Faz hoje precisamente 51 anos que o Estaleiro da Margueira foi inaugurado e se estão recordados, o ano passado dediquei uma longa postagem a esse marco da industria nacional. Contudo há cerca de uns meses veio-me parar às mãos um daqueles documentos inesperados que às tantas pensamos que já nem existem: o menú da inauguração do Estaleiro da Lisnave! Após as cerimónia oficial da inauguração do estaleiro, foi oferecido aos cerca de 7500 convidados, um jantar volante abordo do Paquete Principe Perfeito que se encontrava estacionado na doca 12.

O Paquete Principe Perfeito aguardando os convidados (creditos fotold)

E agora vamos dar uma espreitadela pelo menú. Olhando à primeira vista para a sua capa, é em todo identico aos milhares de menús que foram feitos ao longos dos anos para os navios da Nacional... o que me causou uma imensa admiração. De facto esperava que para um evento desta grandeza a Lisnave tivesse apresentado um menú com outro arranjo gráfico mais relacionado com o tema e não uma imagem de "Assemblée de Buveurs" de Jean-Baptiste Haussard. Relativamente à ementa, como poderão ver, a escolha foi vasta e variada, e dela me sobressaiem na parte das sobremesas os Bolos "Lisnave" e "Ponte Salazar" tinha de facto curiosidade em ver os seus formatos, mas com grande pena minha foi-me impossivel encontrar fotos do jantar.

Capa do Menu

Página interior

Página interior

Contracapa


Os jornais da época dão a entender que o então afamado Snack-Bar Noite e Dia terá sido um dos fornecedores deste gigantesco repasto conforme se poderá ver no seguinte anuncio:

Anuncio do Diário de Noticias de 24 de Junho de 1967



terça-feira, 19 de junho de 2018

Carta da CUF assinada por D. Manuel de Mello

No rescaldo da II Guerra Mundial, grande parte da Europa encontrava-se completamente devastada devido à violência do conflito armado, havendo inúmeras faltas de todo o tipo de produtos, mesmo no caso dos países neutros. É pois, com este cenário de fundo que uma casa suíça designada por Haaf´sche Apotheke & Drogerie (que presumo tenha sido uma firma ou uma casa comercial idêntica às nossas drogarias) se dirigiu à CUF em fins de Setembro de 1945, a perguntar se fabricavam velas de cera. A resposta foi enviada no dia 2 de Novembro desse ano pela mão do próprio D. Manuel de Mello cuja assinatura se reconhece no final da mesma. Com a maior parte dos centros industriais europeus destruídos pela guerra, acredito que à época, esta firma andasse a sondar empresas alternativas por forma a substituir os seus anteriores fornecedores que devem ter colapsado durante este período negro da história da humanidade. Porém não deixa de ser também curiosa a resposta de D. Manuel Mello que ao responder negativamente, fecha a porta a uma possivel entrada da CUF noutros mercados externos. Talvez porque à época a própria empresa estivesse tambem ela a sofrer com as restriçoes e faltas de matérias-primas que condicionavam as suas produções. Contudo esta simples carta não deixa de ser um interessante documento sobre a história desta empresa ainda mais estando assinada pelo punho do seu Administrador Gerente. 

Para uma melhor compreensão desta missiva aqui fica a sua tradução:

"Senhores 

Acabamos de receber a vossa carta do dia 23, pela qual agradecemos, mas lamentamos informar que não fabricamos as velas de cera que procuram, mas sim velas de estearina para iluminação. No entanto, devemos dizer que toda a nossa produção é destinada exclusivamente ao mercado interno, e que não estamos interessados em exportá-las.  

                                                          
                                                                Por favor aceitem os nossos melhores cumprimentos 

                                                                                          Manuel de Mello

                                                                                   ( Administrador Gerente )"


Carta assinada por D. Manuel de Mello


Envelope da Carta

sábado, 16 de junho de 2018

Cartaz Publicitário da CUF - 1935




E já que estamos numa de publicidades, há tempos tive a sorte de comprar uma daquelas peças que uma pessoa olha e é como que amor à primeira vista. Assim que a vi sabia que teria de ser minha. Como poderão ver trata-se de um cartaz publicitário da CUF datado do já longínquo ano de 1935. Esta preciosidade veio-me de Estremoz, onde certamente deve ter estado pendurada por muitos anos em algum estabelecimento de venda de produtos para a agricultura. É de cartão de forma rectangular e tem por medidas 50 cm de altura por 31 cm de largura. Apesar de ter algumas "pinturas de guerra" (riscos e escritos) que normalmente este tipo de material tem, em nada afecta a sua beleza, quase parece que foi pintado à mão! Atente-se no pormenor do cartaz: o ceifeiro com a sua foiçe segurando um molho de trigo que por sua vez se transforma em moedas de ouro! Foi impresso da Litografia Portugal que ao que parece ficava em Lisboa, infelizmente o cartaz não nos dá pistas sobre a autoria do mesmo. A existência da data de 1935 no cartaz leva-me também a supôr que tal como a CUF lançou ao longo de vários anos os famosos cartazes publicitários em que o Zé Povinho passa de um simples burro para um belo carro desportivo descapotável, a empresa terá também lançado anualmente cartazes publicitários todos diferentes, aquando da Campanha do Trigo e que este seria um deles. Mas por agora é apenas uma suposição pois não tenho forma de por enquanto comprovar isso. Uma coisa é certa: com a idade que este cartaz tem não acredito que ainda restem por aí muitos, pois era material que ia para o lixo. Daí ter dito logo no inicio deste texto "tive sorte!"

terça-feira, 12 de junho de 2018

A nova imagem do Banco Totta Standard de Angola

Como o tempo passa! Há 10 anos atrás escrevi pela primeira vez neste blogue alguns apontamentos sobre o Banco Totta Standard de Angola, e hoje decidi que é tempo de voltar à carga nessa temática. Para quem como eu andava sempre a passar a vista pelos jornais é pois natural que se sempre encontre novidades e curiosidades. Há pouco tempo deparei-me com a apresentação do novo simbolo deste banco e pensei logo "olha! isto dava um "post" bem engraçado no meu blogue!". O problema é que esses anuncios foram retirados de microfilmes cuja imagem não estava no melhor estado pelo que tive de fazer o seu restauro o que ainda me levou algum tempo, mas podem crer que foi feito com muito gosto.

Angola - Baía de Luanda
  
Até meados dos anos 50, apesar das vastas possibilidades em multiplos sectores económicos, o sistema bancário angolano, contava apenas com o Banco de Angola criado em 1926 e que detinha também as funções de banco emissor. Esse paradigna só iria mudar com a lei nº 2061 de 9 de Maio de 1953 que veio reformar o sistema bancário no ultramar, estabelecendo bases mais adequadas à autorização e funcionamento de bancos no Ultramar. Refra-se que esta reforma, estava inserida nas novas linhas de planificação económica (Os chamados Planos de Fomento) adoptadas por forma a estimular os diversos sectores da vida nacional (industria, transportes, obras publicas, ultramar etc.). O banqueiro Cupertino de Miranda, criador do Banco Português do Atlântico foi o primeiro a perceber as inúmeras possibilidades que a então florescente economia angolana lhe poderia oferecer e assim em 1955 fundou o Banco Comercial de Angola. Nos anos 60 apesar do deflagrar da guerra, a economia Angola não esmoreceu, mostrando sinais de grande vitalidade e de expansão continuando a interessar os grupos económicos nacionais. Como consequência desse facto surge em 1965 o Banco de Crédito Comercial e Industrial (sob a égide do Banco Borges e Irmão). No ano seguinte foi a vez do Grupo CUF se interessar por este sector, o que levou o Banco Totta-Aliança a fazer uma joint-venture com o Standard Bank of South Africa surgindo assim o Banco Totta Standard de Angola e o Standard Totta de Moçambique. Seguidamente foram fundadas outras instutuições bancárias como o Banco Pinto & Sotto Mayor de Angola em 1967 ou o Banco Inter-unido fundado em 1973 cujos os capitais perticiam à familia Espirito Santo. 

Após esta breve introdução ao sistema bancário angolano, foque-mo-nos no logótipo do Banco Totta Standard de Angola conforme se poderá ver nas digitalizaçoes e anuncios em anexo. O Simbolo em forma de escudo de côr castanha com as letras TS a branco e o nome do banco por extenso em letra preta. Este logótipo acompanhou o crescimento e a expansão do Banco tendo sido completamente reformulado em Janeiro de 1974.

Primeiro Logótipo do Banco Totta Standard de Angola

Anuncio de Agosto de 1966

Anuncio de 1973

Entre Janeiro e Fevereiro de 1974, o Banco Totta Standard de Angola, elabora uma intensa campanha publicitária (curiosamente elaborada por outra empresa pertencente ao Grupo CUF: a Penta Publicidade) nos meios de comunicação social do território nomeadamente na A Provincia de Angola  no Diário de Luanda, Revista Noticia etc. Ao longo dos mês de Janeiro e em foi sendo desvendado o novo simbolo em forma de "teaser". Não sei se nesta época  era já comum fazer-se anúncios deste género, mas de facto encontro neles alguma comparação aos anúncios do mesmo género que se fazem na actualidade. Até posso estar a dizer uma barbaridade e se de facto o estou, agradeço que me corrijam.

O novo logótipo detém um design e um letering moderno tipicamente anos 70. O símbolo passa a ser em forma de circulo com as letras TS a branco e fundo azul claro. Como é dito num dos anuncios o Banco "já não cabia no seu antigo simbolo e por isso criaram um simbolo novo mais voltado o futuro" que pretendia ser a sua imagem de marca para os próximos anos. Refira-se que à época a economia angolana estava numa fase de crescimento sem precedentes. No periodo de 1960 a 1973 apresentava taxas de crescimento anuais de 7% ao ano, sendo que no inicio da década de 70 a industria representava 41% do PIB. À epoca o Banco Totta Standard de Angola contava com 54 agencias espalhadas por todo o território (registe-se que só em 1973 tinham sido abertas novas 14 agencias bancarias) o que demonstrava a plena confiança que esta instituição tinha no futuro da economia angolana.


A Provincia de Angola - 20 de Janeiro de 1974

A Provincia de Angola - 24 de Janeiro de 1974

A Provincia de Angola - 30 de Janeiro de 1974

A Provincia de Angola - 2 de Fevereiro de 1974


Revista Prisma - Março de 1974