terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Caixa de Velas de Natal da CUF

Espero que todos estejam a ter um optimo Natal passado no seio das vossas familias ou com aqueles que vos são importantes. Estava eu a olhar para a Tv e questionei-me "E porque não mostrar hoje aquela caixa de velas que já comprei há uns anos?". Dito e feito! Não há dia melhor que o de hoje para a expôr diante dos vossos olhos. 











Estas devem ter sido feitas em Alcântara na Fábrica União nos anos 60. O que é incrível foi terem durado intactas até hoje como se tivessem vindo da fábrica. Ou alguém se esqueceu delas numa gaveta ou ficaram esquecidas em alguma prateleira de loja. Hoje, pelo menos, voltaram a ver a luz do dia, já que nunca chegaram a alumiar a mesa da consoada. As velas, foram dos produtos que a CUF fabricou durante mais de 100 anos, juntamente com os sabões, produtos base da empresa quando esta foi fundada em 1865 pelo Visconde da Junqueira. 

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Postal de Boas Festas da FISIPE

Em vésperas das comemorações natalícias é tradição publicar Postais deste tema relacionados com as empresas do Grupo CUF. Hoje não vou fugir à tradição e para este ano escolhi um postal da FISIPE que como poderão ver está cheio de originalidade. Presumo que seja do ano de 1974, pois a empresa é criada no ano anterior. Se olharem com atenção para a chama da vela ela é feita das fibras sintécticas FISIPE. 


Resta-me desejar a todos os meus amigos e frequentadores deste blogue, sinceros votos de um Feliz Natal e de um próspero Ano Novo cheio de saúde e alegria. 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

A inauguração da 5ª da Loja Pão de Açucar

A postagem de hoje é feita com um grande valor sentimental, já que ao fazê-la é como um regresso à minha infancia. Mais à frente irão perceber o porquê de tal afirmação.

Há precisamente 47 anos, em plena época natalicia era inaugurada a 5º loja da cadeia de Super e Hipermercados Pão de Açucar.  Ficava localizada no numero 25 da Rua Conde de Sabugosa, por forma a servir a parte sul do populoso Bairro de Alvalade. Detendo uma area comercial de 800 metros quadrados nela se podia (e pode ainda hoje) comprar um pouco de tudo: Artigos alimentares, artigos para automoveis, artigos para casa etc. 



De forma a promover esta nova Loja o Pão de Acuçar efectuou uma campanha promocional que ia até ao dia 29 de Dezembro de 1971 conforme se pode observar aqui:



São de facto inumeras as promoçoes, uma autentica parafernália de produtos desde vinhos, wiskys, Mel, Detergentes, Doces, farois para automovel, brinquedos, fraldas, camisolas de senhora, etc. Os mais curiosos quanto a mim é o guarda-chuva automatico, e a parte da roupa. Talvez por serem coisas que na actual loja detida pela marca Pingo Doce já não serem comercializadas. 

Nas férias escolares da minha infancia, sempre passadas em Lisboa, não havia dia que não fosse lá com os meus avós. À entrada, do lado esquerdo, havia uma tabacaria onde o meu aô comprava o seu tabaco e o jornal desportivo. Do lado contrario ficava um largo balcão em madeira onde estava uma funcionária que guardava os sacos ou outros haveres que as pessoas traziam da rua, a quem eram dadas umas fichas com um número correspondente para no final se ir levantar os pertences. Lembro-me que em cada caixa registadora havia um globo branco com o seu respectivo número indentificador. E depois havia os carrinhos de compras (que logo me voluntariava para guiar!) ainda em ferro, todos cromados, os guiadores eram laranjas com o símbolo do Pão de Açucar. Sabe tão bem fechar por momentos os olhos e recordar por momentos pessoas, lugares, e situações que ficaram guardadas para sempre nas nossas memórias. Como em outras situações desta vida, mal sabia eu que anos mais tarde, já adulto, iria voltar a cruzar-me com todas essas vivências e memórias, tudo isso graças ao Grupo CUF. 

Estado actual da entrada da Loja

Como já havia referido atrás, actualmente esta loja continua a existir, fazendo parte da marca Pingo Doce e creio que há pouco tempo terá levado grandes obras de modernização. 

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

O charme discreto das alcatifas da Festa Patiño

Primavera de Praga
Setembro de 1968, enquanto o mundo estava siderado nos acontecimentos da Primavera de Praga encabeçada pelo reformista Aleksander Dubchek, na escalada da Guerra do Vietname no Sudoeste Asiático, ou no assassinato de Robert Kennedy, o Portugal de Salazar lutava contra os ventos da história, na esperança de ganhar tempo e aliados na sua politica africana, tentando reverter o status-quo a seu favor. Contudo, não foi por essas razões que no final do verão de 1968 o país mais velho da europa se tornou manchete à escala global, mas sim, pela festa que o milionário boliviano Antenor Patiño planeara dar na sua quinta em Alcoitão. Esse evento social que colocou Portugal no roteiro do jet-set internacional era comentado de boca em boca, nas mesas dos cafés e até nos círculos políticos. E não era para menos! Afinal de contas, o milionário ousou chamar-lhe a "Festa do Século" e passou anos a prepara-la.


Antenor Patiño
Mas quem era Antenor Patiño?
Filho de Simón I Patiño, nascido em 1860 tornar-se-ia em finais do século XIX, inícios de XX, no “Rei do Estanho”. Aparentemente existem duas versões de como Simón conseguiu aquilo que todos (ou quase todos) desejam neste mundo: ser rico e famoso. Simón era um modesto empregado de uma loja na cidade de Cochabamba, certo dia entrou-lhe pela loja dentro um cliente sem dinheiro querendo saldar uma pequena divida com um título de propriedade de uma mina sem valor. O empregado acedeu a esse pedido, mas o seu patrão ficou furioso, despedindo-o na hora.  Em vez de lhe pagar a indeminização a que tinha direito, deu-lhe a mina. Numa outra versão Simón era o dono dessa loja e usou as suas economias para comprar um titulo de propriedade de uma mina. O certo é que nessa mina Simón Patiño descobriu estanho,  minério que na época estava a ganhar valor de mercado devido a ser uma matéria-prima cada vez mais procurada pelos diversos usos que tinha na industria. Nos anos seguintes criou o Banco Mercantil (cujo capital era maior que o Orçamento de Estado boliviano) e foi comprando as minas de estanho da Bolívia tornando-se assim no “Rei do Estanho”. Antenor Patiño nasceu em 1896 era o filho mais velho de Simón e acabou por herdar uma fortuna calculada em 200 milhões de dólares, o seu casamento em 1931 com Maria Cristina de Borbón, não foi pacifico e fez correr muita tinta nos jornais e imprensa cor de rosa. Pertencente à família real espanhola, Maria Cristina pôs um processo em tribunal contra Antenor por abandono do lar logo nos anos 40. O processo de divorcio arrastar-se-á pelos tribunais de Paris, Madrid, La Paz e Nova Iorque por mais de 20 anos, até que  no México as aspirações de Patiño foram ouvidas e o divorcio foi consumado, ignorando todos os processos pendentes nos outros tribunais. Entretanto, em 1952, a revolução ocorrida na Bolívia nacionalizou todos os bens da família e Patiño foi obrigado a sair do país. Decidiu visitar Portugal, apaixonando-se pela Costa do Sol, que à época era ainda porto de abrigo de nobres e aristocratas fugidos aos horrores da Segunda Guerra Mundial. Em Alcoitão encontrou o lugar ideal para construir o seu palácio inspirado na arquitectura portuguesa do século XVIII, num terreno que foi crescendo até à dimensão final de 50 hectares. Era ali que Antenor Patiño passava pelo menos dois meses por ano, saboreando o suave verão da Costa do Sol. E era também ali que planeava dar a Festa do Século, por forma a apresentar Beatriz de Rivera como sua esposa a todo o high-life internacional.

Vista aerea da Quinta do Patiño

Para se ter uma noção do que era por essa época a Quinta de Alcoitão, sem maçar muito o leitor aqui fica uma breve descrição:  possuía uma sala de bowling, uma sala de cinema, uma sala para sauna e massagens, uma discoteca, uma imitação da biblioteca joanina da universidade de coimbra, uma pequena casa para as crianças brincarem, um vale com oliveiras, um court de tenis, uma estufa com flores, outra com plantas, uma capela do XVI que fora trazida de uma aldeia do norte de Portugal e construída de novo  na propriedade, uma coudelaria com pistas de aquecimento de saltos e de corridas, uma enorme vinha, dois lagos, uma piscina, um jardim suspenso com 37 canteiros, um campo de golfe, pomares, uma mata extensas plantações de arvores de fruto, e ainda cães, vacas, peixes de aquário, faisões e aves de capoeira, além de uma gigantesco batalhão de 150 empregados!

Porém nesse verão de 1968 Portugal transformou-se, como que por toque de magia, num país de festas e bailes dançantes, às quais ninguém queria faltar, quer fossem figuras do jet-set nacional ou internacional. A 3 de Setembro D. Maria Amélia de Mello (neta de Alfredo da Silva e uma das duas irmãs dos empresários Jorge e José de Mello) ofereceu na sua residência um almoço intimo a algumas das individualidades estrangeiras que se encontravam em Portugal para assistirem às festas das famílias Schumberger e Patiño. Dos 80 convidados saliente-se a presença de Cristina Ford (mulher de Henry Ford II), o estilista Givenchy, Maria Biatriz de Saboia e a esposa do sr. Niarchos (o grande rival de Onassis no mundo da navegação). À noite os Duques do Cadaval resolveram dar uma festa intima para 130 convidados tendo escolhido a Estalagem do Muchaxo para o efeito. Estiveram presentes figuras como a actriz Capucine, Henry Ford II, os Condes de Manique, o próprio Antenor Patiño e muitos outros que iriam abrilhantar as festas seguintes. 

Estalagem do Muchaxo

Audrey Hepburn e Doris Brynner
No dia seguinte chegou Aeroporto de Lisboa, a elegantíssima Audrey Hepburn, trazendo por companheira de viagem Doris Brynner (mulher do actor Yul Brynner). Nessa época, o casamento de Audrey com o actor Mel Ferrer estava a chegar ao fim, vivendo vidas separadas. Assim enquanto o marido se encontrava em Londres em filmagens, Audrey achou uma optima ideia vir conhecer Portugal e divertir-se um pouco, pondo de lado os seus problemas conjugais. Nas horas seguintes chegaram a Portugal, Begun Aga Khan, Gina Lollobrigida, o pintor Vidal y Quadras, a condessa de Douciev, Sr. e Sra. Newhouse (proprietários da Revista Vogue) entre um rol quase interminável de outras figuras do jet-set internacional, que esgotaram a capacidade hoteleira de luxo em Lisboa e no Estoril. 

Quinta do Vinagre


Pierre e São Schlumberger
À noite todas elas se encontrariam na Quinta do Vinagre, situada em Colares, palco da festa Schlumberger (Pierre e Maria Conceição que era de origem portuguesa). No seu solar do Séc. XVI que outrora foram propriedade dos Condes de Mafra mandaram construir de propósito um pavilhão que estava avaliado em milhares de contos. As colunas que o sustentavam eram de mármore e os espelhos tinham vindo de França, quanto às fardas do empregados seriam azuis com botões em prata! O Hotel Ritz forneceu a comida. As flores que decoravam faustosamente todo o pavilhão vieram de Paris, isto porque Antenor Patiño comprou praticamente todas as flores existente no mercado nacional para decorar a sua festa. Ao longo de toda a noite os 1400 convidados foram animados por duas Orquestras até à debandada dos últimos convidados, coisa que aconteceu por volta das 7 horas da manhã do dia seguinte.

O Pavilhão da Festa do Vinagre à noite

Manoel Vinhas na sua Herdade
No dia seguinte foi a vez do empresário Manoel Vinhas (abastado industrial ligado ao sector cervejeiro) dar também ele uma festa. Localizada em 200 quilómetros de Lisboa, a Herdade do Zambujal em Águas de Moura, foi placo da única "festa à portuguesa". Os convidados eram recebidos por uma guarda de honra feita por campinos que seguravam os cavalos à mão, sendo os convidados direccionados para o «tentadero». Ali os convidados poderam apreciar Luis Dominguin (já afastado do mundo tauromáquico) a dar um ar da sua graça a liderar bezerros. O transporte dos 600 convidados que se encontravam no «tentadero» foi efctuado por meio de camionetas. Chegados ao arraial os foliões foram recebidos por duas charangas, no rio que ficava sobranceiro à Herdade uma barca com um grupo de alentejanos vestidos a rigor cantava modas. Flores da Madeira decoravam o espaço dando-lhe uma frescura única, na zona de jantares, um tecto feito em colmo protegia os convidados da possível humidade nocturna. Na ementa constavam sardinhas, croquetes e caldo verde, servidos em louça de barro e acompanhadas por canecas com água pé. As mesas estavam enfeitadas com toalhas aos quadrados. No arraial havia de tudo, barraquinhas de tiro, um macaco farturas, e um sem número de outras coisas que fizeram as delícias dos convidados. Claudine de Cadaval, Audrey Hepburn, Givenchy, Ratna Dewi (ex mulher de Sukarno, Presidente da Indonésia), Douglas Fairbanks Jr., Ira Furstenberg, ficaram encantados e no final qualificaram-na de «Extraordinária», «Sensacional», «Única», «A Festa das Festas». Porém a maior e mais aguardada de todas as festas teria finalmente lugar no dia seguinte.

Audrey no «tentadero» da Herdade do Zambujal

Ao princípio da tarde do dia 6 de Setembro a actriz Zsa Zsa Gabor aterrou no Aeroporto de Lisboa seguindo directamente para o Hotel Ritz. A essa hora Antenor Patiño fiscalizava tudo ao pormenor para que nada falhasse na festa. O milionário não se poupou a gastos, tudo foi pensado ao mínimo detalhe. Patiño foi consultar especialistas da meteorologia para se assegurar que nesse dia não chovia. Contudo, por precaução. resolveu contratar por 70 mil dólares uma equipa de técnicos americanos que montaram um pequeno observatório na Serra de Sintra, ao mesmo tempo que mantinha um avião de prevenção pronto a descolar para lançar um produto nas nuvens caso houvesse ameaça de chuva.  O faqueiro de «christofle» foi adquirido em Paris pela soma de 2500 contos, foram também adquiridos pratos em prata estilo Séc. XVIII no valor de algumas centenas de contos, bem como oito grandes frigoríficos, quatro congeladores de grande capacidade e seis fogões industriais. Foram contratados dois especialistas franceses para tratarem das iluminações dos jardins. Num dos lagos foi montado um dispositivo que regulava a intensidade das luzes e os repuxos de água consoante o som da música. Foi ainda construída uma gruta artificial com o propósito de servir de discoteca, tendo por dimensões, 25 metros de largura, 10 metros de altura e deslumbrantes efeitos de luz e som, sendo servida por dois bares. Patiño não queria que nenhum sapato dos convidados se estragasse e para isso mandou cobrir os terraços e os jardins da Quinta de Alcoitão de alcatifa vermelha, trabalho esse encomendado à CUF claro está...uma estravagância que lhe custou nada mais nada menos do que 500 contos! Aliás num rasgo de genialidade e explorando o mediatismo do acontecimento social, a CUF mandou publicar em diversos jornais do dia 7 de Setembro um anuncio onde era referida a colocação por pessoal técnico da empresa dos cerca de 3 mil metros de alcatifas no tempo record de apenas trêsdias.
Anuncio da alcatifas da CUF 
Um conjunto de lanternas de ferro forjado custaram 700 contos, e os dois mil quilos de flores que incluíam 300 dúzias de gladíolos, 200 dúzias de cravos e rosas e 200 dúzias de dálias chegaram aos 300 contos. O anfitrião explicou aos técnicos da Romeira (empresa florista nacional especialista em eventos deste tipo) que não queria ramagens prateadas ou douradas e só queria usar flores portuguesas. Na cozinha o chef Luís Carolino preparava uma ementa composta por Salmão 
farci e trutas salmonadas do Rio Minho, filetes de linguado e espargos glacésboulantine de galinha au homard, frango e jambom glacés, presunto de Chaves e outras especialidades portuguesas, corbeilles de frutas de Portugal e vinte qualidades de doces -charlottes, tortas várias, pastelaria francesa, petits-fours, parfaits, sorvetes diversos e D. Rodrigos do Algarve. Encomendou cerca de 1800 garrafas de champagne Perrier-Jouet bem como 600 garrafas de whisky das marcas White Horse, Ballantines e Highland Queen.




Populares aguardando as celebridades da Festa Patiño
Ao inicio da noite à beira da estrada que ligava Alcoitão a Sintra, começaram a juntar-se muito curiosos que foram cercando os portões da Quinta para ver a chegada do high life nacional e internacional. Entretanto Antenor Patiño vestiu o seu smoking branco e juntamente com a esposa Beatriz dirigiram-se para a entrada da Quinta para ali esperar os seus convidados. Ia ser uma noite longa estavam confirmados cerca de 1800 convidados, dos quais encontravam-se todos os que foram referidos nas festas anteriores bem como Raimundo Orsini (o mais belo playboy do mundo), Zsa Zsa Gabor, o actor Curd Jugens, Stavros Niarchos, Gunter Sachs (marido de Brigitte Bardot), a actriz Maria Félix, membros das familias Rockfeller e Rothschilds, Pierre Cardin, Valentino, o industrial italiano Paollo Marinotti. Do lado português estiveram figuras da sociedade como Vera Lagoa, João Coito, Mary Espírito Santo, Amália Rodrigues, Francisco Pinto Balsemão, o banqueiro Jorge Espirito Santo Silva, os Viscondes de Soveral, membros das famílias Sousa Lara e Champalimaud, o empresário Jorge de Mello acompanhado da esposa Maria Eugénia entre muitas outras figuras nacionais. A cobertura jornalística internacional do evento foi garantida pelas equipas de reportagem da TimesParis Match e pela Oggi. Às duas da manhã as orquestras que até aí abrilhantavam a festa calaram-se e alguém disse em voz alta "Vai começar o fogo de artificio!". O fogo de artificio foi deveras espectacular, espantando e deslumbrando todos quantos na festa assistiram a ele, contudo a intensidade foi tal que provocou um incêndio nos pinhais da propriedade, ao qual os bombeiros souberam dar uma rápida resposta. Às 4 da manhã os convidados
Jorge de Mello e sua esposa
passaram da pista de dança para um dos lagos da propriedade, local onde puderam apreciar as «marchinhas» da orquestra do brasileiro Sílvio Silveira. Havia ainda a discoteca para onde se dirigiram todos os «românticos», termo utilizado pela imprensa, devido à envolvência do local, construído para imitar uma gruta. A festa terminou já o Sol ia alto, os empregados começaram a servir o pequeno almoço junto da piscina de agua aquecida. Alguns dos convidados terminaram a festa com um valente mergulho, e até para isso Antenor Patino estava preparado, tendo encomendado na América fatos de banho de papel. Pelas 8 horas os convidados regressavam às casas onde se encontravam hospedados ou para os seus quartos de hotel. Terminavam assim os dias frenéticos em que Portugal foi palco mundial de algumas das maiores festas de sempre, mas não terminava apenas isso. Na manhã do dia 7 de Setembro, o país acordou com a noticia de que na noite anterior, o Presidente do Conselho tinha sido operado de urgência no Hospital da Cruz Vermelha, devido a um traumatismo craniano do qual nunca recuperou. Era o princípio do fim do salazarismo. 


Um aspecto da Festa Patiño ao amanhecer


E agora diga-me o leitor, valeu ou não valeu apena ler este post até ao fim? É certamente muito diferente de todos aqueles que tenho escrito, mas é impossível ficar indiferente a tais eventos. Ainda hoje a uma distância de 50 anos fascinam e abrem-nos a boca de espanto não só pela sua espetacularidade como pelo seu glamour e ate originalidade. E a tudo isto podemos ainda juntar a presença discreta das alcatifas da CUF... e do seu líder.

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Alfredo da Silva faleceu há 76 anos.



Muito já disse (e já foi dito) sobre a figura de Alfredo da Silva, por isso hoje não me irei alongar em grandes considerações sobre a sua figura. Porém há sempre determinados aspectos menos conhecidos sobre sua vida que ficam por contar. É por isso que hoje publico uma curiosa fotografia publicada na revista "Lisboa Carros" de Janeiro-Fevereiro de 1952 onde podemos ver uma foto do grupo de empregados da carris em 1905, época na qual Alfredo da Silva fazia parte da sua Administração, tendo sido um dos responsaveis pela introdução da tracção eléctrica em 1901. Não o está a conseguir identificar? É simples, é a oitava pessoa (a contar da esquerda) que está sentada. 

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Fragmentos de uma Caixa de Sabão da CUF

Há de facto coincidências engraçadas, ontem a dois passos da Casa de Alfredo da Silva no Monte Estoril encontrei esta curiosidade. Aquilo que vêm á vossa frente, presumo ver as partes laterais de uma antiga caixa de sabão da CUF. Segundo o vendedor grande parte da madeira desta caixa estava já podre e quebradiça, apenas tendo recuperado estas partes laterais. Perante tal achado, não lhe fiquei indiferente e resolvi trazê-lo para casa para o estudar melhor.




Segundo o que posso apurar esta caixa, poderia datar-se das décadas de 1910 ou de 1920. Porque é que digo isto? Observe-se na primeira fotografia para além de se ver a sigla C.U.F. na parte de cima temos a informação (e os desenhos) das 8 medalhas de Ouro que a empresa ganhou nas exposições industriais de Lisboa (1888) Porto (não sei a data), Anvers (1894), Paris (1876 e 1900) e St. Louis (1904). Infelizmente as letras já estão muito esbatidas, mas ainda é perceptivel a sua leitura. Na foto seguinte a única coisa que salta à vista é que esta seria uma caixa com capacidade para 30 quilos de sabão, sabão esse muito provavelmente em barra daquelas que se vendia ao peso nas drogarias. As suas marcas a fogo estão já muito gastas pelo tempo, e pelos maus tratos e não há milagres perante uma coisa tão antiga como esta.

Uma coisa é certa: a União Fabril de Henry Burnay e de Alfredo da Silva, era já nos seus primórdios uma marca que gozava de grande reputação e aceitação, primando por produtos de qualidade, procurando uma maior visibilidade e prestígio concorrendo nas diversas exposições industriais quer nacionais quer internacionais. Tanto assim foi que a partir de 27 de Fevereiro de 1877 a CUF passa a ser um dos múltiplos fornecedores (na categoria de velas e sabões) da Casa Real, uma honra e prestigio a que só alguns podiam almejar. 

Relativamente às 8 medalhas de Ouro que a CUF ganhou nas exposições internacionais aqui ficam duas fotos ilustrativas não só dessas medalhas bem como da sua datação. 

Quatro da CUF com algumas das medalhas ganhas em exposições industriais (espolio Museu Baía do Tejo)

Pormenor de uma factura de venda da CUF de 1914 com as medalhas ganhas

Factura da CUF de 1914 (observe-se a morada da empresa)

sábado, 23 de junho de 2018

Menú da Inauguração do Estaleiro da Margueira

Faz hoje precisamente 51 anos que o Estaleiro da Margueira foi inaugurado e se estão recordados, o ano passado dediquei uma longa postagem a esse marco da industria nacional. Contudo há cerca de uns meses veio-me parar às mãos um daqueles documentos inesperados que às tantas pensamos que já nem existem: o menú da inauguração do Estaleiro da Lisnave! Após as cerimónia oficial da inauguração do estaleiro, foi oferecido aos cerca de 7500 convidados, um jantar volante abordo do Paquete Principe Perfeito que se encontrava estacionado na doca 12.

O Paquete Principe Perfeito aguardando os convidados (creditos fotold)

E agora vamos dar uma espreitadela pelo menú. Olhando à primeira vista para a sua capa, é em todo identico aos milhares de menús que foram feitos ao longos dos anos para os navios da Nacional... o que me causou uma imensa admiração. De facto esperava que para um evento desta grandeza a Lisnave tivesse apresentado um menú com outro arranjo gráfico mais relacionado com o tema e não uma imagem de "Assemblée de Buveurs" de Jean-Baptiste Haussard. Relativamente à ementa, como poderão ver, a escolha foi vasta e variada, e dela me sobressaiem na parte das sobremesas os Bolos "Lisnave" e "Ponte Salazar" tinha de facto curiosidade em ver os seus formatos, mas com grande pena minha foi-me impossivel encontrar fotos do jantar.

Capa do Menu

Página interior

Página interior

Contracapa


Os jornais da época dão a entender que o então afamado Snack-Bar Noite e Dia terá sido um dos fornecedores deste gigantesco repasto conforme se poderá ver no seguinte anuncio:

Anuncio do Diário de Noticias de 24 de Junho de 1967



terça-feira, 19 de junho de 2018

Carta da CUF assinada por D. Manuel de Mello

No rescaldo da II Guerra Mundial, grande parte da Europa encontrava-se completamente devastada devido à violência do conflito armado, havendo inúmeras faltas de todo o tipo de produtos, mesmo no caso dos países neutros. É pois, com este cenário de fundo que uma casa suíça designada por Haaf´sche Apotheke & Drogerie (que presumo tenha sido uma firma ou uma casa comercial idêntica às nossas drogarias) se dirigiu à CUF em fins de Setembro de 1945, a perguntar se fabricavam velas de cera. A resposta foi enviada no dia 2 de Novembro desse ano pela mão do próprio D. Manuel de Mello cuja assinatura se reconhece no final da mesma. Com a maior parte dos centros industriais europeus destruídos pela guerra, acredito que à época, esta firma andasse a sondar empresas alternativas por forma a substituir os seus anteriores fornecedores que devem ter colapsado durante este período negro da história da humanidade. Porém não deixa de ser também curiosa a resposta de D. Manuel Mello que ao responder negativamente, fecha a porta a uma possivel entrada da CUF noutros mercados externos. Talvez porque à época a própria empresa estivesse tambem ela a sofrer com as restriçoes e faltas de matérias-primas que condicionavam as suas produções. Contudo esta simples carta não deixa de ser um interessante documento sobre a história desta empresa ainda mais estando assinada pelo punho do seu Administrador Gerente. 

Para uma melhor compreensão desta missiva aqui fica a sua tradução:

"Senhores 

Acabamos de receber a vossa carta do dia 23, pela qual agradecemos, mas lamentamos informar que não fabricamos as velas de cera que procuram, mas sim velas de estearina para iluminação. No entanto, devemos dizer que toda a nossa produção é destinada exclusivamente ao mercado interno, e que não estamos interessados em exportá-las.  

                                                          
                                                                Por favor aceitem os nossos melhores cumprimentos 

                                                                                          Manuel de Mello

                                                                                   ( Administrador Gerente )"


Carta assinada por D. Manuel de Mello


Envelope da Carta

sábado, 16 de junho de 2018

Cartaz Publicitário da CUF - 1935




E já que estamos numa de publicidades, há tempos tive a sorte de comprar uma daquelas peças que uma pessoa olha e é como que amor à primeira vista. Assim que a vi sabia que teria de ser minha. Como poderão ver trata-se de um cartaz publicitário da CUF datado do já longínquo ano de 1935. Esta preciosidade veio-me de Estremoz, onde certamente deve ter estado pendurada por muitos anos em algum estabelecimento de venda de produtos para a agricultura. É de cartão de forma rectangular e tem por medidas 50 cm de altura por 31 cm de largura. Apesar de ter algumas "pinturas de guerra" (riscos e escritos) que normalmente este tipo de material tem, em nada afecta a sua beleza, quase parece que foi pintado à mão! Atente-se no pormenor do cartaz: o ceifeiro com a sua foiçe segurando um molho de trigo que por sua vez se transforma em moedas de ouro! Foi impresso da Litografia Portugal que ao que parece ficava em Lisboa, infelizmente o cartaz não nos dá pistas sobre a autoria do mesmo. A existência da data de 1935 no cartaz leva-me também a supôr que tal como a CUF lançou ao longo de vários anos os famosos cartazes publicitários em que o Zé Povinho passa de um simples burro para um belo carro desportivo descapotável, a empresa terá também lançado anualmente cartazes publicitários todos diferentes, aquando da Campanha do Trigo e que este seria um deles. Mas por agora é apenas uma suposição pois não tenho forma de por enquanto comprovar isso. Uma coisa é certa: com a idade que este cartaz tem não acredito que ainda restem por aí muitos, pois era material que ia para o lixo. Daí ter dito logo no inicio deste texto "tive sorte!"

terça-feira, 12 de junho de 2018

A nova imagem do Banco Totta Standard de Angola

Como o tempo passa! Há 10 anos atrás escrevi pela primeira vez neste blogue alguns apontamentos sobre o Banco Totta Standard de Angola, e hoje decidi que é tempo de voltar à carga nessa temática. Para quem como eu andava sempre a passar a vista pelos jornais é pois natural que se sempre encontre novidades e curiosidades. Há pouco tempo deparei-me com a apresentação do novo simbolo deste banco e pensei logo "olha! isto dava um "post" bem engraçado no meu blogue!". O problema é que esses anuncios foram retirados de microfilmes cuja imagem não estava no melhor estado pelo que tive de fazer o seu restauro o que ainda me levou algum tempo, mas podem crer que foi feito com muito gosto.

Angola - Baía de Luanda
  
Até meados dos anos 50, apesar das vastas possibilidades em multiplos sectores económicos, o sistema bancário angolano, contava apenas com o Banco de Angola criado em 1926 e que detinha também as funções de banco emissor. Esse paradigna só iria mudar com a lei nº 2061 de 9 de Maio de 1953 que veio reformar o sistema bancário no ultramar, estabelecendo bases mais adequadas à autorização e funcionamento de bancos no Ultramar. Refra-se que esta reforma, estava inserida nas novas linhas de planificação económica (Os chamados Planos de Fomento) adoptadas por forma a estimular os diversos sectores da vida nacional (industria, transportes, obras publicas, ultramar etc.). O banqueiro Cupertino de Miranda, criador do Banco Português do Atlântico foi o primeiro a perceber as inúmeras possibilidades que a então florescente economia angolana lhe poderia oferecer e assim em 1955 fundou o Banco Comercial de Angola. Nos anos 60 apesar do deflagrar da guerra, a economia Angola não esmoreceu, mostrando sinais de grande vitalidade e de expansão continuando a interessar os grupos económicos nacionais. Como consequência desse facto surge em 1965 o Banco de Crédito Comercial e Industrial (sob a égide do Banco Borges e Irmão). No ano seguinte foi a vez do Grupo CUF se interessar por este sector, o que levou o Banco Totta-Aliança a fazer uma joint-venture com o Standard Bank of South Africa surgindo assim o Banco Totta Standard de Angola e o Standard Totta de Moçambique. Seguidamente foram fundadas outras instutuições bancárias como o Banco Pinto & Sotto Mayor de Angola em 1967 ou o Banco Inter-unido fundado em 1973 cujos os capitais perticiam à familia Espirito Santo. 

Após esta breve introdução ao sistema bancário angolano, foque-mo-nos no logótipo do Banco Totta Standard de Angola conforme se poderá ver nas digitalizaçoes e anuncios em anexo. O Simbolo em forma de escudo de côr castanha com as letras TS a branco e o nome do banco por extenso em letra preta. Este logótipo acompanhou o crescimento e a expansão do Banco tendo sido completamente reformulado em Janeiro de 1974.

Primeiro Logótipo do Banco Totta Standard de Angola

Anuncio de Agosto de 1966

Anuncio de 1973

Entre Janeiro e Fevereiro de 1974, o Banco Totta Standard de Angola, elabora uma intensa campanha publicitária (curiosamente elaborada por outra empresa pertencente ao Grupo CUF: a Penta Publicidade) nos meios de comunicação social do território nomeadamente na A Provincia de Angola  no Diário de Luanda, Revista Noticia etc. Ao longo dos mês de Janeiro e em foi sendo desvendado o novo simbolo em forma de "teaser". Não sei se nesta época  era já comum fazer-se anúncios deste género, mas de facto encontro neles alguma comparação aos anúncios do mesmo género que se fazem na actualidade. Até posso estar a dizer uma barbaridade e se de facto o estou, agradeço que me corrijam.

O novo logótipo detém um design e um letering moderno tipicamente anos 70. O símbolo passa a ser em forma de circulo com as letras TS a branco e fundo azul claro. Como é dito num dos anuncios o Banco "já não cabia no seu antigo simbolo e por isso criaram um simbolo novo mais voltado o futuro" que pretendia ser a sua imagem de marca para os próximos anos. Refira-se que à época a economia angolana estava numa fase de crescimento sem precedentes. No periodo de 1960 a 1973 apresentava taxas de crescimento anuais de 7% ao ano, sendo que no inicio da década de 70 a industria representava 41% do PIB. À epoca o Banco Totta Standard de Angola contava com 54 agencias espalhadas por todo o território (registe-se que só em 1973 tinham sido abertas novas 14 agencias bancarias) o que demonstrava a plena confiança que esta instituição tinha no futuro da economia angolana.


A Provincia de Angola - 20 de Janeiro de 1974

A Provincia de Angola - 24 de Janeiro de 1974

A Provincia de Angola - 30 de Janeiro de 1974

A Provincia de Angola - 2 de Fevereiro de 1974


Revista Prisma - Março de 1974

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Terrina da Sociedade Geral

Eis uma bonita terrina da Sociedade Geral, produzida pela Vista Alegre entre o período de 1947-68. Como se poderá ver no seu bojo tem também o carimbo da antiga Casa José Alexandre, casa a quem a Sociedade Geral encomendava as suas louças. Olhando com todo o detalho, consegue-se perceber que osenfeites das pegas foram feitos á mão. Foi sobrevivendo até hoje, ao tempo e ao uso, o que é verdadeiramente notável. É bem possível que tenha andado em algum dos navios desta empresa que sulcuram os mares entre os anos de 1922 e 1972.