Esta minha primeira postagem deste novo ano de 2018, demorou um bocadinho mais do que eu estava a espera pois fui encontrando novos dados que me levaram a reformular o texto que agora se apresenta. É dedicada a um tema muita vezes esquecido ou ignorado: os negócios ultramarinos do Grupo CUF. Talvez por a informação disponível ser parca, é ainda hoje uma área que se encontra praticamente por estudar. Se juntarmos a esta problemática as longas guerras civis, tanto em Angola como em Moçambique, e o consequente desaparecimento/destruição, não só dessas unidades industriais, bem como dos seus arquivos, não nos restará por certo, grande margem de manobra para um estudo detalhado sobre tais actividades.
Apesar da CUF ter alargado os seus negócios ao Ultramar português logo em 1919, (criação da Casa Gouvêa na Guiné e mais tarde a Companhia do Congo Português em Angola) ainda sob a liderança de Alfredo da Silva, será apenas nos anos 50 que o Grupo estende exponencialmente as suas actividades económicas a estes territórios. Ali iriá criar empresas abarcando os mais variados sectores e produtos: minérios, industria alimentar, cordoaria, banca, seguros, navegação representações de marcas, etc.
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Porta-chaves da Induve |
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Vista da Fábrica em 1967 |
A INDUVE - Industrias Angolanas de Óleos Vegetais S.A.R.L. foi criada em Agosto de 1957 nessa vaga de investimentos, com vista ao aproveitamento das matérias-primas ultramarinas. O seu capital accionista encontrava-se repartido pelas seguintes firmas: CUF, Sociedade Nacional de Sabões, Macedo & Coelho, Comfabril e Sovena. Os dois anos que se seguiram foram dedicados à construção das modernas instalações fabris, situadas às portas de Luanda, na Estrada do Cacuaco. Dedicada essencialmente à extracção e refinação de oleos vegetais, fabrico do sabão e rações para animais a marca Induve foi crescendo, impondo-se no mercado angolano ao longo dos anos. Mas não se pense que os primeiros anos foram fáceis, marcados por um periodo em que apesar do grande esforço dispendido, a situação das suas contas/lucros encontrava-se altamente deficitária. Tudo estava por fazer, e a Induve percebeu que para reverter a situação em que se encontrava era preciso mudar a sua estratégia. Numa terra com tão vastas potencialidades agrícolas como Angola, não fazia sentido estar-se a importar oleaginosas para o fabrico do oleos alimentares. Assim, um dos objectivos primaciais da empresa, passou pelo incremento da produção local da matéria-prima oleaginosa tão necessária à sua laboração.
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Vista da Fábrica - anos 60 |
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Stand da Induve - FILDA 1972 |
Criadora de marcas como, o óleo de amendoim Maná, o óleo de girassol Gisol, ou o óleo de milho Solmil, representava ainda as consagradas marcas metropolitanas como o Clarim e o Tudóleo da Sovena. Os grandes esforços iniciais acabaram por ser largamente compensados, pois em 1969 a Induve é já responsavel por 33% da produção de sabão, 40% da produção de óleo de amendoim e 85% da produção de óleo de girassol de Angola, valores que mostram a grandeza e importância desta empresa no território. No ano seguinte a companhia produziu 61,6% dos oleos comestiveis e 49,1% dos sabões consumidos em Angola. Tudo isto só foi possivel pela grande racionalização dos processos de fabrico apoiados por um elevado "Know-How" bem como de meios humanos (refira-se que entre 1969 e 1973 o quadro de pessoal passou de 280 para 440 elementos). Em 1971 foi modernizada a sua Saboaria, tendo-se instalado uma nova linha de arrefecimento contínuo de sabões, nesse ano foi também ampliada a capacidade da fábrica de óleos, com a entrada em funcionamento de uma nova unidade de extração por dissolventes (Unidade De Smet sobre a qual já havia falado no meu blogue em
Julho de 2010) elevando o seu nível de transformação para 120 Ton/dia. A Induve era presença constante nos mais diversos certames e feiras de Angola, caso da FILDA (Feira Internacional de Luanda).
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Anuncio de 1972 |
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Anuncio de Aumento de Capital - 1974 |
Para além de utilizar matéria-prima 100% angolana a empresa dava também o seu contributo para a divulgação de adquadas técnicas agrícolas. Em 1973/74 devido á forte expansão do sector de alimentação e higiene em Angola, a Induve tinha já previsto um plano de expansão do aumento da capcidade de refinação de óleos de 8.100 para 21.600 toneladas/ano, a duplicação da produção de sabões e a entrada no campo dos detergentes. Planeava-se ainda a criação de uma nova unidade de aproveitamento de glicerina destinada à exportação. Este programa de investimentos estava orçado na ordem dos 75 mil contos, facto que levou a empresa em Novembro de 1974 a lançar um aumento de capital social de 65.000 para 100.000 contos para fazer face a tais encargos. Porém, como se pode ler no relatório e contas da empresa, referente a esse ano, o momento escolhido para o fazer não foi o mais propício: "o mercado financeiro de Angola estava acusando [...] as consequências de uma agitação social que afectava sensivelmente a actividade económica". Maís à frente o texto justifica da seguinte forma outra das razões de tal insucesso: "Verificou-se de facto, que o grande investidor não aproveitou esta oportunidade de comparticipar de um empreendimento, que é útil e rentável. Apenas a pequena poupança se interessou, com o número de adesões apreciável mas de fraca expressão no montante a subscrever." E a partir de 1974-75, com grande pena minha, não possuo mais dados sobre a empresa, porque deixam também de haver jornais de Angola nos arquivos e bibliotecas portuguesas.
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Botoeira da Induve para colocar no casaco |
Na actualidade a
Induve S.A. é uma das joias da coroa do
Grupo Phoenician Eagle que investiu uma elevada soma de capitais com vista à sua modernização. Possui hoje equipamento e tecnologia do mais moderno que existe no campo da produção da farinha de milho com uma capacidade instalada de 450 toneladas/dia, bem como 100 toneladas/dia de rações para animais. Em 2007 foi construida uma nova fábrica de engarrafamento de óleos alimentares com capacidade de encher 6000 garrafas e 500 "jerrycans" por hora. Actualmente trabalham na Induve S.A. mais de 250 empregados. Tal como no passado, a empresa continua a deter um papel importante no fomento das matérias-primas locais, participando com o governo em programas de incentivo a determinados tipo de culturas (caso do milho). É curioso verificar que ao longo destes 61 anos de existência ainda hoje o óleo Maná é uma marca de referência da empresa às quais se juntaram entretanto novas marcas tais como: Tia Bella, Fubada, Romana, Nossa Fuba, Solmilho, Gazela do Norte, Óleo d´Ouro, Óleo Dourado e Óleo Kamba.
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Vista Parcial das Instalações Industriais da Induve na actualidade |
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Moderna Linha de ensacamento de farinhas |
Fontes Consultadas:
- Relatórios e Contas da Induve (1967, 1968, 1971 e 1974)
- Jornal "A Provincia de Angola"
- The CUF Group - 1969
- O Grupo CUF - 1972
1 comentário:
Gostaria de ter acesso ao relatório e contas desta empresa, referente ao ano de 1974, sei que o mesmo foi impresso na empresa Neográfica de Luanda, proprietária do Jornal "Notícias"
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