Em finais do século XIX, inícios de XX, o Chile tinha uma abundante reserva de um químico precioso: o Nitrato de Sódio, que à època era também designado por Ouro Branco ou Salitre. É um composto químico, cristalino inodoro e incolor. É solúvel com água, álcool e amónia liquida. Usado maioritariamente como fertilizante agrícola e para o fabrico de explosivos, o Chile começou a exportar este mineral para a Europa na década de 1820. O seu valor de mercado e importância foram crescendo, tendo levado mesmo a uma disputa que ficou conhecida pela "Guerra do Pacifico" (também conhecida por Guerra do Salitre) que decorreu entre 1879 e 1883. As razões deste conflito centravam-se nos territórios da região do Deserto do Atacama, rico nesse mineral, levando a uma contenda por parte do Chile, Perú e a Bolívia, da qual os chilenos saíram vitoriosos.
Desde cedo, a empresa proprietária da marca Nitrato do Chile apostou forte na propaganda, como forma de aumentar os seus lucros. À época a publicidade estava ainda na sua primeira infância, contudo quem soubesse criar uma imagem marcante, que se destacasse da concorrência era meio caminho andado para o sucesso. Na Península Ibérica dos anos 30, a sua estratégia publicitária, passou por colocar painéis de azulejo (material mais barato e com muita durabilidade) cuidadosamente colocados à entrada das localidades, ou lugares centrais para que a sua mensagem chegasse a todos.
Quem percorra o país rural de lés-a-lés pela sua rede de estradas nacionais, irá encontrar inúmeros painéis publicitários do Nitrato do Chile, que ainda hoje resistem ao tempo e às mudanças do mundo. Aqui como na vizinha Espanha, o anúncio a estre produto acabou por tornar-se num dos ícones publicitários do século XX.
Botoeira do Nitrato do Chile |
Mas sempre me surgiu a interrogação: "Quem teria sido o criador deste símbolo?" Aparentemente tudo leva a crer que a ideia terá surgido pela mão de Adolfo López-Durán Lozano. Este estudante madrileno de arquitectura terá sido convidado a pintar um anuncio por um professor do seu curso que presumivelmente teria uma ligação com a empresa chilena de nitratos. A empresa gostou do resultado final, e assim nasceu o homem com chapéu de abas largas sentado em cima de um cavalo que fez parte do imaginário e do quotidiano de tantas e tantas gerações.
Em Portugal a Companhia União Fabril foi desde cedo o distribuidor oficial do Nitrato do Chile e quem consulte, revistas de agricultura como a "Gazeta das Aldeias", irá certamente encontrar um anúncio a referir tal facto. Veja-se por exemplo este lançado logo depois do final da II Guerra Mundial:
A saca de juta que aqui vos apresento é já bem mais recente, devendo datar de finais do anos 60 mas que como podem observar se encontra em optimo estado de conservação:
Anúncio de 1969 ao Produto |
Pegando no "Simposium Agro-Pecuário" lançado em 1969 vamos ver o que ele nos diz sobre o Nitrato de Sódio do Chile:
Composição: Fertilizante azotado natural, de fórmula química NaNO3, contendo 16% de azoto sob a forma nítrica, além de pequenas quantidades de micronutrientes, dos quais se destaca o boro.
Indicações: Pelo facto de conter o azoto sob a forma nítrica, é prontamente assimilado pelas plantas, às quais concede vigor imediato. Convém, em geral, a todas as terras e pode empregar-se em todas as culturas, no começo da sua vegetação, ou em cobertura.
Pode misturar-se em qualquer altura com os adubos potássicos, e com o superfosfato de cal, na altura da aplicação.
Doses: Desde 100 a 700 Kg por hectare
Apresentação: Em sacos de juta com 50 Kg
4 comentários:
Contigo Ricardo, aprendemos sempre qualquer coisa.
Muito bom texto Ricardo sempre a aprender. :)
Quem colocou os paineís de azulejos do Nitrato do Chile foi o Sr. Jaime Duarte , meu avô .
Uma publicidade muito eficaz a dos azulejos. Ainda hoje me lembro de muitos anúncios de produtos dessa forma. Parabéns por esta pesquisa e por não se perderem estes ícones da indústria portuguesa da época. Abraço Ricardo Ferreira. Gostei mesmo da pesquisa e do texto.
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