quinta-feira, 9 de novembro de 2017

O Congresso da ISMA - 1954

Entre os dias 24 e 30 de maio de 1954 realizou-se em Lisboa um Congresso Internacional de Superfosfatos (I.S.M.A. - International Superphosphate and Compound Manufacturers Association) que contou com a presença de representantes das seguintes nações: Portugal, Espanha, França. Inglaterra, Irlanda, Suiça, Alemanha, Itália, Bélgica, Suécia, Noruega, Dinamarca, Finlandia, Holanda, Estados Unidos, Africa do Sul, Norte de África, India e Nova Zelândia.

Postal do Casino Estoril

O banquete inaugural reuniu cerca de 500 pessoas e decorreu no Casino Estoril, sendo presidido pelo secretário de Estado do Comércio e Industria. No fim do banquete o Dr. Jorge de Mello na qualidade de representante da Indústria Portuguesa a este congresso saudou todos os presentes. Depois de agradecer as facilidades concedidas pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros para a realização deste congresso referiu que a indústria portuguesa de superfosfatos não existiu entre nós até ao ano de 1908. Focando-se depois na actualidade referiu a existência de três empresas nacionais produtoras de Superfosfatos cujas suas fábricas foram totalmente modernizadas depois da última guerra. De seguida
Dr Jorge de Mello
frisou: "Fazemos face a todas as necessidades imediatas da Lavoura metropolitana e ultramarina e estamos preparados para os aumentos de consumo que derivarem da activa politica de fomento agrário do nosso Governo. Mas, enquanto o mercado interno não se desenvolver suficientemente sobram-nos largas disponibilidades para exportação, quer por possuirmos grandes fábricas modernas e bem apetrechadas; quer devido às existências de pirites no nosso País; quer ainda pela sua posição geográfica, relativamente aos jazigos de fosfatos do Norte de África, Portugal estaria hoje em condições de ocupar posição de maior destaque na exportação de superfosfatos se tivesse querido colaborar mais activamente na desordem internacional de preços." Falaram de seguida os Srs. Colbejornsen e Grandgeorge manifestando palavras de reconhecimento aos organizadores do Congresso. O Presidente do I.S.M.A. Sr. Biro agradeceu a festa e por ultimo o Subsecretário do Comércio referiu-se à necessidade da intensificação da lavoura nacional, por forma a dar resposta ao elevado ritmo de crescimento da população nacional.

Casa São Cristóvão no Estoril onde decorreu o Cocktail 
O local escolhido para a realização das reuniões deste Congresso, foi a sede da Associação Comercial de Lisboa. E como não poderia deixar de ser da praxe, entre estas reuniões, realizaram-se visitas turísticas e almoços de confraternização. No dia 26, os membros do Congresso visitaram os arredores de Lisboa tendo visitado o Palácio de Queluz, de seguida foi servido um almoço nos jardins do Palácio de Monserrate a convite da Câmara Municipal de Sintra. À tarde, D. Manuel de Mello ofereceu na sua casa do Estoril um cocktail aos congressistas.

No dia seguinte a comitiva rumou a Vila Franca de Xira, mais concretamente à Estalagem do Gado Bravo, local escolhido pelas empresas das minas de S. Domingos, Lousal e Aljustrel para oferecer o almoço aos congressistas. Durante o repasto os 400 congressistas poderam admirar danças e cantares caracteristicos da leziria ribatejana, tendo-se distinguido os seguintes solistas: Manuel Rabaça, Maria Paixão e Maria das Graça. Seguiu-se uma garraiada em que tomaram parte os cavaleiros Manuel Conde e Francisco Mascaranhas.


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Complexo da CUF no Barreiro

No dia 28 os delegrados do I.S.M.A. visitaram demoradamente as fábricas da CUF no Barreiro sendo acompanhados pelo Sr. D. Manuel de Mello, Nicolas Gregori, José Manuel de Mello e eng. Eduardo Madaíl administradores daquela empresa, bem como pelo Dr. Jorge de Mello, delegado a indústria portuguesa ao conselho da Associação Internacional de Fabricantes de Superfosfatos. Depois de terminada a visita foi oferecido pela administração da CUF um almoço, no meio do qual o Sr. D. Manuel de Mello usou da palavra, merecendo sem sombra de duvida serem lidos os seguintes excertos:

"Dirijo-me a homens de trabalho para quem o estudo, o espirito de decisão e a actividade valem mais do que a oratória. Tal como os congressistas, entendo que os ruídos de uma fábrica em laboração valem mais do que um discurso. Direi mesmo: para visitantes de alta categoria social e industrial de V. Exas. valem mais do que qualquer outra homenagem. Escutemos, então, o que esta fábrica nos está dizendo pelas voz de suas máquinas.

Ela quer contar-nos a sua história, as suas grandes dificuldades iniciais, o seu lento progresso , as lutas constantes, as desilusões e as vitórias. É, afinal, a história de quase todas as grandes fábricas que pelo Mundo têm sido geradas por esse inigualável factor de fomento que se chama iniciativa privada. Mas esta fábrica fala-vos, principalmente do homem, tantas vezes incompreendido, que a soube criar e fazer grande. Do homem que, mesmo no túmulo, permanece junto dela, como que a dirigi-la ainda com o seu espírito imortal e a extraordinária força de vontade que para nós, seus sucessores continua sempre viva. Muitos de V. Exas. o conheceram e com ele conviveram em reuniões e congressos internacionais.

Alfredo da Silva, com audácia, inteligência e tenacidade, com o mais são, mais útil e mais indiscutível patriotismo, foi o primeiro industrial português do seu tempo, em época em que as grandes iniciativas económicas não tinham ainda o devido acolhimento entre nós. Deu-nos exemplo magnifico, exemplo que frutificou. Apontou-nos o caminho do futuro. Soubemo-lo seguir. Antes de Alfredo da Silva se lançar no fabrico de superfosfatos, faltavam quase totalmente á lavoura nacional os adubos nacionais, motivo por que ela se encontrava á mercê das guerras e outras causas de dificuldades de abastecimento do estrangeiro.

Fabrica de Superfosfatos da C.I.P.

Hoje além desta fábrica que estão escutando, existem em Portugal mais duas outras, a da SAPEC de Setubal e a da Companhia Industrial Portuguesa na Póvoa de Santa Iria cuja soma de capacidade de produção atinge cerca de 650.000 toneladas a mais de superfosfatos, equiparadas portanto, para todas as necessidades actuais da lavoura metropolitana e ultramarina e para os aumentos de consumo previstos. Portugal, que soube conquistar o seu lugar como exportador de superfosfatos, deseja mantê-lo, para o que tem direito incontestável."

D. Manuel de Mello
O Sr. D. Manuel de Mello concluiu dizendo:

"Ao receber visitantes tão ilustres, esta fábrica inscreve os seus nomes, a letras de ouro, na memória dos seus dirigentes. Em meu nome pessoal e no conselho de administração da Companhia União Fabril, brindo por V. Exas. pela prosperidade das obras económicas e sociais que dirigem e faço votos  ardentes para que o congresso do I.S.M.A. contribua para a cooperação internacional cada vez mais forte e portanto, cada vez mais util para todas as nações nele representadas."

De seguida o Sr. Douglas Bird usou da palavra agradecendo em seu nome e dos delegados o prazer que a Companhia União Fabril lhes proporcinou de visitarem as suas fábricas do Barreiro. O representante da Holanda, Sr. J. D. Waler agradeceu a recepção dispensada e brindou a Portugal. Por ultimo o Subsecretário do Comércio e Industria, regozijou-se com o facto de o congresso ter sido realizado no nosso país, permitindo aos delegados conhecer a realidade do nosso desenvolvimento industial, bem como das gentes portuguesas.

Após o almoço os congressistas dirigiram-se para Belém, para ali visitar o Museu dos Coches, seguindo depois para o Castelo de S. Jorge.

Fontes consultadas:

- O Século, Diário de Noticias, Diário Popular