quarta-feira, 9 de março de 2011

Programa da Liga de Instrução e Recreio CUF (1940)

No meio fabril do finais do Séc. XIX princípios de XX era muito frequente surgirem, agremiações desportivas e culturais das fluorescentes cinturas industriais das grandes cidades do país. E quem conheça um pouco da história do Barreiro, sabe que nesta terra mais do que outras a cultura e o peso das agremiações na vida do Concelho foi um facto presente até há bem pouco tempo. Desde cedo ali se fundaram, Sociedades Filarmónicas, Clubes de Futebol, Clubes Recreativos, com o intuito de dar instrução e outros benefícios a essas gentes.

A Liga de Instrução e Recreio CUF

Desde o inicio da laboração do Complexo do Barreiro, por iniciativa do seu operariado se tentou criar um sociedade de instrução e recreio, ideia esta que acabou por chegar aos ouvidos do próprio Alfredo da Silva. Conta-se que este terá falado com João Silva (um delegado administrativo da Companhia) que ficou responsável pela aquisição de instrumentos musicais. Surgindo assim a Academia Recreativa e Musical do Pessoal da Companhia União Fabril, que inicialmente era composta por uma Tuna de cordas, passando mais tarde a Banda Musical.

Nos anos 10 a sua sede ficava junto da antiga Dispensa da Empresa, mas com a construção da 2ª fase do Bairro Operário, esta  mudar-se-á para um edifício mais apropriado à sua função, sendo rebaptizada de Liga de Instrução e Recreio CUF. A sua banda de música foi formada pelas seguintes pessoas: Francisco Carlos de Oliveira Padrão, José Veloso, Manuel Duarte. Em 1941 esta Liga é integrada no Grupo Desportivo da CUF.




Mas como se pode ver neste programa que vos apresento, para alem de Banda de Musica, esta Liga teria também actividades cénicas. Neste caso o programa a apresentar era um Cegada em honra a um dos membros da colectividade, de seu nome António Graça.. Observe-se que esta cegada estava autorizada, para tal foi preciso pagar-se 1$10 à Repartição de Finanças do Barreiro!


Mas o que era um a Cegada?

A primeira vez que ouvi falar no termo "Cegada" é precisamente no Filme "A Canção de Lisboa" de Cotinelli Telmo de 1933. Não sei se estão recordados daquela cena em que o Senhorio de Vasco Leitão (Vasco Santana)lhe coloca todo o seu mobiliário no meio da Rua e este começa a cantarolar, ao que atraídos por essa cantilena se junta ao seu redor um magote de pessoas. No final aparece o policia que sopra no apito e pergunta algo do género "Vamos lá saber onde está a licença para esta cegada!" Lembram-se? Penso que é uma excelente forma de ilustrar o que eram as cegadas.

E aqui fica um interessante texto escrito José Lúcio sobre as cegadas:   

Existiram vários tipos de "Cegadas". Não havendo uma data rigorosa para o seu aparecimento eu arrisco a data de 1880 para o aparecimento dos primeiros espectáculos de rua, cantadas em tom maior, em FADO Corrido. As "Cegadas não eram mais que uma crítica, cantada em verso, dos costumes e desavenças da época. Nela participavam quatro homens, um, vestido com saias que representava a mulher do lupanar, cantadeira e mulher de vida fácil, outra personagem o Janota, também conhecido pelo "pagantes" (que só pagava quando a sua protegida lhe fornecia empréstimo a fundo perdido). Participava também um polícia que empunhava uma espada de pau e tinha por função manter ou provocar a desordem e finalmente o Galego. Foram muitos os Galegos que emigraram para Lisboa. Faziam os trabalhos que ninguém queria, muitos deles conseguiram subir na vida e ainda existem hoje em Lisboa muitos restaurantes dessa proveniência. Durante os três dias do Entrudo estas boas almas, de bolsos depenados, actuavam nos bairros de Lisboa onde a populaça assistia em redondel e os mais privilegiados, não fosse o Diabo tecê-las, assistiam a estas fadistices de rua nos seus camarotes (nas janelas dos prédios que circundavam o local onde a "Cegada" tinha lugar), no final, os quatro actores diziam a célebre frase "cinco reis, dê reis, tudo é dinheiro". Como nem sempre os assuntos versejados eram do agrado do auditório, havia sempre alguém que se picava, em geral a pancadaria final fazia inveja aos produtores de filmes de Cowboys americanos. Ou porque os actores se cansaram das nódoas negras, dadas sem intenção pelas cargas policiais, ou porque o FADO se tornou mais polido, as "Cegadas" tornaram-se dramáticas e passaram a evocar situações históricas cantadas em tom menor, mais propício ao ambiente evocado. Serviam de tema o drama de D. Inês, o exílio de Camões ou o nevoeiro que impediu o regresso de D. Sebastião. Quando a República passou a ter os seus adeptos e Marx e Lenine começaram a ser lidos, as "Cegadas" começaram a ser políticas e serviam de campanha política para a sensibilização da opinião pública para a queda da Monarquia. Já agora, permitam-me o aparte: terá alguma coisa a ver com o assunto as campanhas política actuais serem uma grande cegada? O FADO serviu, uns anos antes da queda da Monarquia em 1910, como canção política. A provar esta afirmação João Black, socialista republicano que começou a cantar em1893, deslocava-se muitas vezes ao Alentejo para cantar os seus Alexandrinos políticos, a que ele chamava cantigas ao domicílio. Se vivesse na época actual eu chamar-lhe-ia especialista em presidências abertas.

P.S - Agradeço ao meu amigo Carlos Caria que teve a gentileza de me oferecer esta relíquia.


segunda-feira, 7 de março de 2011

Manuel Oliveira - Historias do nosso futebol .... Futebol Portugues



Este é um vídeo que merece ser visto, sobre um treinador desconhecido por muitos. Manuel de Oliveira foi um treinador que nunca teve a sorte de treinar um dos grandes, mas por onde passou deixou a sua marca. Para alem do vídeo vou deixar um conjunto de textos encontrados na Internet que ilustram um pouco da sua vida e da sua carreira. É a minha homenagem esta curiosa figura do Futebol Português


Texto retirado do Diario de Noticias, da autoria de Fernando Madaíl:

Ainda o escrete canarinho de Pelé, Gérson, Jairzinho, Rivellino e Tostão não tinha surpreendido no Mundial de 1970 com a sua nova táctica do 4x4x2 e já Manuel Oliveira dispunha nesse figurino a equipa da CUF para neutralizar, em 1965, o Benfica de Coluna e de Eusébio, vencendo o poderoso adversário por 2-0. O primeiro dos 27 emblemas que o treinador dirigiu acabaria essa época em terceiro lugar, garantindo assim um lugar nas competições europeias.


Antigo júnior do Sporting, que admirava o "fabuloso" Canário, para ele um ídolo tão grande como para os miúdos de hoje é Cristiano Ronaldo, ao ponto de ainda guardar na carteira um recorte com quase 60 anos do jornal do clube em que é comparado ao seu modelo - "a actuação de Oliveira [na Taça Ricardo Ornelas, em 1950] faz-nos lembrar o estilo de Carlos Canário, um jogador cem por cento enérgico e cem por cento hábil a escamotear a bola dos pés do adversário" -, acabaria por ser um "crónico suplente" da equipa dos célebres Cinco Violinos, a linha avançada de Alvalade constituída por Jesus Correia, Vasques, Albano, Peyroteo e Travaços.


Aos 30 anos de idade, já na sua quinta época com a camisola da CUF (onde era, também, empregado de escritório e tinha reencontrado o treinador Fernando Vaz, que o descobrira para o Sporting), na décima jornada da temporada de 1962/63 deixava de ser jogador para substituir Anselmo Pisa no comando da equipa, trocando assim, definitivamente, a braçadeira de capitão pelo banco do treinador.


No famoso jogo com o Benfica, além de preparar a marcação individual a Eusébio (o craque de quem viria a ser treinador no Beira-Mar), Manuel de Oliveira engendrava aquele 4x4x2 e punha a equipa a fazer aquilo que hoje se designa por pressing, levando o técnico do Benfica, o franco-romeno Elke Schwartz (que ganharia esse campeonato, mas perderia a final da Taça dos Campeões), a comentar que a CUF "utilizara uma táctica de basquete".


O técnico que editou agora as suas Memórias de um Treinador de Futebol (ed. Âncora) orientou, depois, o Leixões e o Belenenses (tinha sido uma das opções para o Sporting, mas seria preterido em benefício de Fernando Caiado), antes de chegar ao Barreirense onde, na época de 1969/70, apresentaria outra inovação táctica: um 3x5x2 contra o Leixões, acabando o campeonato em quarto lugar e com acesso à Taça UEFA.

Ao longo de seis décadas, em que foi técnico, formador em cursos de treinador e comentador da rádio, Manuel Oliveira elaborou sempre fichas de jogo com as disposições de cada equipa, o encaixe dos adversários, o comentário das actuações e as ilações sobre o resultado. Tem assim concluída a obra Tácticas do Futebol Português (dos Primeiros Sistemas de Jogo ao Mundial da Alemanha), em que analisa, não apenas as suas experiências tácticas, mas tudio o resto, das equipas do Sporting, Benfica, Porto e Belenenses dos anos 50 às selecções portuguesas em fases finais.


Mas, enquanto esta obra está no prelo, pode-se apreciar, no livro que está nas livrarias, as suas vivências em clubes como a Sanjoanense, Farense, Benfica de Huambo (Angola) Olhanense, Lusitano de Évora, Espinho, Beira-Mar, Vila Real, Marítimo, Portimonense e União de Leiria, antes de chegar a Setúbal e surpreender, em 1983, o FC Porto "europeu" de Fernando Gomes com um 3x4x3 que garantiu um 3-1 ao Vitória.
E, na carreira de um treinador que diz que agora chamam losângulo ao que ele define como "um 4x3x3 em V" e que nunca esqueceu a forma como José Szabo treinava a técnica individual "até à exaustão", seguiu-se a selecção da Guiné-Bissau, Louletano, Fafe, Varzim, Nacional, Sintrense, Montijo, Amora, Beja, Lusitanos Saint-Maur (França), Gondomar e Imortal.
E, assegura no tom que o tornou conhecido no futebol, se a final de 1998 tivesse sido disputada pela Holanda (em vez do Brasil), a França não seria campeã do Mundo.


Retirado da Plagina ARTBARREIRO.COM por Bruno Contreiras Mateus




NO DESPORTO PARA TEREM UM TRABALHO NA INDÚSTRIA

O 'histórico' treinador Manuel de Oliveira sabe que o Grupo Desportivo da CUF podia ter sido campeão nacional se o ‘patrão’ quisesse – o futebol do clube disputou-se na primeira divisão, desde a época de 53/ 54 e durante 22 anos.
'Quando eu entrei para jogador entrei também como funcionário da CUF. Naquela altura, o futebol não era profissional. O que interessava mais do que ser jogador era o emprego na CUF' – explica Manuel de Oliveira, 76 anos. O antigo jogador saiu do Sporting para ser empregado de escritório na indústria barreirense e para a sua mulher se empregar nos têxteis.
Quem ia estudar procurava a Académica de Coimbra; no GD da CUF, era o emprego que aliciava. 'No plano desportivo, o Sporting era mais forte. Mas senti-me muito bem no GD CUF porque podia não só jogar como trabalhar.'
Foi como treinador, na época em que foi inaugurado o Estádio Alfredo da Silva, que Manuel de Oliveira levou o clube a competições europeias batendo o AC Milão por 2-0 em casa, em 1965.
Capitão-Mor tinha 22 anos quando, na época seguinte, se estreou no clube. 'Bem dita a hora porque passei de operário a empregado da CUF. O meu pai era soldador e passou a chefe. A minha mãe era empregada têxtil, andava com bata preta, e passou a pagadora.' Conta o ponta-de-lança - hoje com aos 65 anos e um filho no futebol do GD Fabril que promete ir longe - que pelo clube passaram muitas figuras também do Benfica como Ferreira Pinto, Mário João, Arsénio. 'Éramos fortes, estávamos sempre classificados em 5.º, 6.º lugar.'
Mas o clube das fábricas do Barreiro não brilhava só no futebol. Manuel Gomes Cerqueira (ver texto principal), filho de empregados da CUF e também ele lá trabalhador, foi o único capitão da Selecção Nacional de Basquetebol do GD CUF. No hóquei em patins, Vítor Domingos foi considerado o melhor guarda-redes do Mundo, em 1972. Também na Selecção Nacional, o jogador já tinha conquistado um Campeonato Mundial em 68 e quatro competições europeias.
Em 1962, Vítor chegou ao clube com a promessa de emprego na UFA (União Fabril do Azoto) mas foi colocado na secretaria do GD CUF. 'A adaptação como jogador custou-me por causa da respiração. Os gazes, a poluição, eram muito maus.' Mas depois disso e de curada uma lesão num joelho – foi operado no Hospital da CUF – o clube disputou sempre os primeiros lugares.
Este ano foi encontrada uma bandeira do GD CUF que data de 1928. Julgava-se, até aqui, que o clube datava de 27 de Janeiro de 1937. Praticam-se hoje como modalidades principais o futebol (na 3.ª divisão nacional), hóquei (formação), ténis, judo, ginástica, futsal (3.ª divisão nacional), kickboxing e atletismo. Além do Estádio Alfredo da Silva, inaugurado em 1965, o agora GD Fabril tem ainda um pavilhão multiusos, dois campos de futebol de relva natural, três sintéticos, uma pista de atletismo e cinco courts de ténis, três de terra batida e dois sintéticos.
'Enquanto presidente do Grupo Desportivo Fabril, vou sempre manifestar o meu descontentamento por as forças vivas desta terra – e muito mais os políticos –, que defendem os cem anos da CUF, se esqueceram que a CUF tem um Grupo Desportivo, que está vivo e vai continuar vivo' – afirma Faustino Mestre. Recorda o presidente do Fabril que 'a família Mello foi mal tratada no Barreiro', mas 'resistiu ao temporal do 25 de Abril. Não se apaga a História. E mal vai o País quando não consegue aprender com a sua História.'
As críticas de Faustino Mestre atingem os Mello. 'Sinto-me triste por não darem atenção a esta casa. E faziam o grande favor de doar, espontânea e incondicionalmente, estes terrenos ao Fabril.' Mais, acusa anteriores direcções de terem feito desaparecer mais de um milhão de euros que deveriam pertencer aos cofres do clube. 'Nestes últimos 20 anos, o clube vendeu terrenos no valor de três milhões de contos (cerca de 15 milhões de euros) e o único dinheiro que entrou nesta casa é referente ao aluguer por direitos e superfície, por 20 anos, do terreno das bombas de gasolina – 140 mil contos (700 mil euros). E a família Mello sabe disto porque recebeu 90 por cento da verba total. Achei mal foi os outros 10 por cento não terem entrado para o clube' – acusa