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terça-feira, 22 de agosto de 2017

Alfredo da Silva faleceu há 75 anos



Para o espírito inquieto de Alfredo da Silva nada melhor do que celebrar os 75 anos do seu desaparecimento, com o legado da sua obra muitas vezes multiplicada e alargada pelos seus sucessores, nas pessoas de D. Manuel de Mello, e Jorge e José Manuel de Mello. 

Em 1971, quando passavam respectivamente 100 anos do seu nascimento e 29 anos da morte do seu criador e patrono, a CUF decidiu dedicar-lhe um filme documentário intitulado "Um Homem, uma Obra" 

É um filme de 17 minutos, a cores, com realização de Alfredo Tropa e Eduardo Elyseu, produção de Fernando Almeida, Direcção de Produção de Baptista Rosa, Fotografia de Elso Roque, Sonoplastia de Raul Ferrão e com a locução de uma voz inesquecivel da rádio e da televisão da época: Pedro Moutinho.

Na parte inicial deste documentário é feita uma sintese da revolução social e industrial  bem como da introdução de novas tecnologias até à primeira guerra mundial, feito através de figuras e fotografias. Daí por diante centraliza-se na figura de Alfredo da Silva recorrendo a fotografias da época do grande industrial, versus a moderna realidade apartir de vistas aéreas do que era o complexo em 1971, tratamento de cinzas de pirite, UFA, Metalurgia do Cobre, Caldeiraria, etc.

Para além da CUF são ainda apresentadas imagens da Lisnave, Sociedade Geral, Compal, Tabaqueira, Tinco, Teledata.

Refira-se ainda os interessantes testemunhos de Carlos Rei, Luis Almeida Guerreiro, José Rodrigues dos Santos, sobre a figura de Alfredo da Silva

Mas detenhamo-nos por algums momentos nas duas primeiras figuras, que referi pois têm a sua importância para a CUF, apesar de pouco conhecidas pela maioria das pessoas.

Carlos Rei - o homem que salvou a vida a Alfredo da Silva em Leiria em 1921. Portugal vivia por essa época um periodo bastante conturbado, quer a nivel social, politico e economico, face aos reflexos ainda latentes do grande conflito mundial. A 19 de Outubro desse ano eclodiu em Lisboa um movimento que ficou conhecido pela "Noite Sangrenta", no qual forças radicais de esquerda afectas à GNR e à Marinha, desencadearam uma tentativa de golpe de estado, tendo sido assassinados António Granjo, Machado dos Santos, José Carlos da Maia, entre outras figuras, na ainda hoje misteriosa "camioneta fantasma"  que andou a deambular pelas ruas de Lisboa nessa madrugada. Avisado que o seu nome constava nas listas de pessoas a abater, Alfredo da Silva decide apanhar o comboio rumo ao exílio em Espanha, voltando a viver em Portugal somente apatir de 1927 após a instauração da Ditadura Militar. 

Mas sobre este episódio nada melhor que transcrever o depoimento que este senhor deu à Revista Flama a 25 de Junho de 1971:  «Estávamos em Outubro de 1921. Alguns dias depois do "19 de Outubro". Eu era segundo-sargento de Infantaria 7. Tinha vindo de França. Da Guerra.», começa a contar o septuagenário de cabeça já branca, mas voz ainda forte, relembrando, amiúde, que já lá vão cinquenta anos. Cinquenta anos que, agora, lhe confundem um tanto as ideias. Todavia, vai dizendo com orgulho: «Naquela altura havia duas facções. Era a democratica e a outra, a contrária, a anti democrática. Eu pertencia a esta, a do Governo. Residia em Leiria, e fora nomeado um novo governador civil. O povo, por seu lado nomeara um administrador de concelho (ainda existia o cargo nesse tempo) ilegalmente porque tal competia ao governador. Era um tal tenente Lopes que a facção democrática queria para administrador. Ele estava colocado fora de Leiria, e mandaram-lhe um telegrama para se apresentar na cidade. Convergiu tudo para a estação dos caminhos-de-ferro. Também fui com os do meu grupo, para impedirmos que o tenente Lopes tomasse posse.
  Acontece que Alfredo da Silva viajava no mesmo comboio a caminho de Espanha, do exílio, soube mais tarde. O tenente Lopes, apercebendo-se que ele estava no comboio, começou a denunciá-lo àquela multidão. Alfredo da Silva, então assomou a uma das portas e disse: "Alfredo da Silva sou eu. Que me querem?". Estabeleceu-se a confusão, e daquela turba partiu um tiro que o atingiu. Agarram-no e meteram-no numa camioneta para o levar para o hospital. Fui nela com mais outros rapazes e, numa praça da cidade (a de Rodrigues Lobo) fomos assaltados pela multidão. Pegaram em Alfredo da Silva e atiraram-no para o chão. Desci da camioneta, era novo , e opus-me a que o agredissem de maneira bárbara. Ainda levou alguns pontapés. Acabavam de o matar se não tenho sido eu e mais alguns rapazes. Ainda surgiu um sapateiro com uma caçadeira carregada com zagalotes. Só tive tempo de levantar a espingarda e o tiro partiu para o ar. A multidão enfureceu-se mais, atiraram-se a mim e, no meio daquilo tudo, apareceu o comandante de Infantaria 7, coronel Oliveira - era boa pessoa - que me defendeu e ordenou o transporte do senhor para o hospital.
 Três dias depois Alfredo da Silva chamou-me ao hospital e, diante do coronel Oliveira, agradeceu-me o que eu lhe tinha feito e disse-me para lhe pedir o que quisesse. Respondi-lhe que nada queria, porque o que tinha feito a ele, tê-lo-ia feito a qualquer outra pessoa. Nem mesmo sabia quem era o senhor. Mais duas vezes me chamou para agradecer e para eu lhe dizer o que queria que fizesse por mim. Da última indagou das possibilidades de eu sair da vida militar e se queria ir para a CUF. Nessa altura, mandei perguntar para uns familiares em Lisboa quem era Alfredo da Silva e o que era a CUF. Disseram-me que a CUF era uma empresa grande e ele um grande industrial, etc. Então agradeci-lhe o oferecimento e aceitei. No dia um de Novembro apresentava-me ao trabalho no Barreiro, como encarregado do Cais. Reformei-me há doze anos como tesoureiro do estaleiro naval. Ao senhor Alfredo da Silva vi-o algumas vezes na sede, mas de vez em quando visitava as secções. Está claro que nunca mais falámos sobre esse assunto. Ele era uma pessoa muito especial.»

Luis de Almeida Guerreiro - um dos pioneiros da empresa, admitido a 1 de Dezembro de 1908, serviu-a com extrema dedicação durante 55 anos! Iniciou a sua carreira na Fábrica Sol, porém passados apenas 3 anos, Alfredo da Silva chamou-o para ir dirigir a nova fábrica de extracção de azeite de bagaço no Barreiro para onde se mudou definitivamente. O seu primeiro vencimento foi de 35 escudos mensais na Fábrica Sol, e quando foi transferido para a outra margem do Tejo passou a receber 50 escudos, casa, água, luz e lenha. Em Janeiro de 1915 assumiu as chefias das Construções onde se manteve durante 44 anos! Teve também a seu cargo durante largos períodos a direcção de algumas actividades relacionadas com a obra social da Empresa, como a Dispensa, a Padaria e os Refeitórios sendo ainda Chefe dos Serviços de Incêndios. Desempenhou cargos directivos no Grupo Desportivo da CUF, tendo sido Presidente da Assembleia-Geral durante 8 anos e de Presidente da Direcção do Clube em 1948. 

     
E resta-me terminar com a frase que remata este filme, que de facto sintetizava tudo aquilo que era o pensamento da Empresa nos inicios da década de 70:

"Está ali um embrião de novas técnicas e de maior riqueza. Está ali um Futuro melhor. Hoje, prepara e convive com o Amanhã"

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

In Memoriam - Jorge de Mello 1921-2013

Esta semana fica marcada pelo desaparecimento daquele que para muitos foi considerado o ultimo industrial português (quando me refiro ao termo "industrial" é de facto na acepçao pura e dura de criaçao de industria seja ela pesada ou ligeira). Por isso venho até vós para prestar o meu ultimo tributo a esta personalidade para a qual sempre olhei com grande admiraçao. Se uns têm por idolos jogadores de futebol, cantores, actores, há tambem aquele que olham para homens os industriais e empresarios, cujas suas visoes empresarios contribuiram para o progresso do pais nas mais diversas areas. É esse o meu ultimo caso.

 De seu nome completo Jorge Augusto Caetano da Silva José de Mello, nasceu em Sintra em 1921 no seio de uma familia aristocrática com elevado peso no tecido produtivo da nação.  Desde cedo lhe fizeram compreender a importancia de ser um Mello e de ter por avô Alfredo da Silva. Vivendo uma infancia repartida entre Sintra e Estoril, Jorge de Mello fez os primeiros estudos na Escola Primaria de Cascais, ingressando depois no Colégio Infante de Sagres. No seu livro de memórias Jorge de Mello refere que:

"nunca senti nenhum previlégio especial, nem os meus pais alguma vez alimentaram essa ideia, quer comigo, quer com as minhas irmãs e o meu irmão. Ia para a escola a pé. Quando chovia, lembrava-me que havia automoveis na garagem, que estavam parados mas nunca tive a ousadia de falar nisso à minha mãe. É verdade que tinha gabardina e os meus colegas de escola, que apanhavam a mesma chuva, talvez não tivessem sapatos com solas tao grossas como os meus. Mas essa diferença não era sentida por mim, não era importante não me sentia diferente deles."

Efectuou depois os estudos superiores (muito a contra gosto) no Instituto Superior Técnico (ali se manteve ate ao 2 ano do Curso, tendo interrompido o mesmo para cumprir o serviço militar  entre 1942 e 1945) onde Jorge se deveria formar em Engenharia Quimica, como era vontade expressa do seu avô. Porém Jorge sempre manifestou grande interesse pelo universo da gestao economica, assim e apos a morte do seu avô decide inscrever-se no ISCEF, passando a ter uma vida bastante preenchida. Nestes primeiros anos, os estudos e as responsabilidades que lhe sao atribuidas na CUF ocupam-lhe muito do seu tempo.

Jorge entra para a empresa em 1945, nunca epoca na qual a empresa estava a passar por grandes transformaçoes e modernizaçoes, que foram fulcrais para o crescimento e consolidação da CUF em novos sectores economicos do pós-guerra. É restruturado e fortalecido o seu quadro de pessoal tecnico, aumentado o seu nivel cientifico, com o recrutamento gradual e selecionado de dezenas de engenheiros, economistas, médicos, e outros especialistas para o desenvolvimento ou criação de novos serviços.  É feita uma aposta muito signficativa na area tecnica e na area de investigação de forma a criar condições para se atingirem niveis de produtivade e eficiencia paralelos aos observados em países estrangeiros mais desenvolvidos. Neste periodo é descoberto a seu pai (D. Manuel de Mello) a doença de parkinson, o que leva Jorge e o seu irmão José a assumirem responsabilidades e cargos de cada vez maior importãncia nos destinos da companhia. Durante este perido para alem dos negocios estará intimamente ligado à criaçao da Colonia de Férias da CUF, localizada em Almoçageme e inaugurada em 1950, destinada aos filhos dos trabalhadores. Amante do Desporto, praticava, ténis, futebol, hoquei e tiro, chegando mesmo a ser campeao nacional desta modalidade. Sempre demonstrou grande carinho pelo Grupo Desportivo da CUF (apesar de ser um fervoroso adepto do Sporting) e sempre o tentou dinamizar o mais possível. Deslocava-se frequentemente ao Barreiro para ir assistir aos jogos de futebol do Clube. Como grandes iniciativas deste periodo pode-se destacar a criação da UFA em Alferrarede que produzia amoniaco electrolitico, a construção no Barreiro da primeia fábrica nacional de granulação de adubos (1951), e a criação da fabrica de tintas Tinco (em associação com a multinacional inglesa I.C.I). Ou ainda a participaçao da empresa através do seu sector melato-mecanico, nas mais variadas obras publicas (construção de condutas forçadas, pontes rolantes, equipamentos para barragens, fabricas etc.) do esforço de modernizaçao nacional do pós-guerra.



Se a década de 60 foi a época de ouro da economia nacional com crescimentos superiores aos da média europeia à procura de uma rápida aceleração/transformação do tecido produtivo e das actividades economicas, nao o foi menos para a CUF. A empresa abre novos horizontes, exporta para paises que até então nenhuma empresa portuguesa sonhara fazê-lo: Japão, Australia, Egipto, Alemanha, Estados Unidos, Europa do Norte, Bulgária etc, comprovando a qualidade dos seus produtos, bem como a capacidade concorrencial da empresa. Abarca novas áreas de negócio como a Hotelaria/Turismo, Alimentar, Estudos de Mercado, Bioquimica etc. Manuel de Mello era já um homem muito doente, e quem geria verdadeiramente o Grupo empresarial era Jorge e o seu irmão, José, a quem coube o merito da criação dos Estaleiros da Lisnave, o primeiro empreendimento português vocacionado a 100% para o Estrangeiro.

Em 1963, Jorge de Mello é um dos mentores da C.I.E. - Comissão Interna da Empresa, que pertendia ser um elo de ligação entre os trabalhadores e a administração. Reunindo uma vez por mes na sede da CUF (Av. Infante Santo)  membros da administração e representantes dos varios sectores industriais da empresa debatiam desde, assunto relativos às fabricas, segurança no trabalho, escola da cuf, colonia de férias, dispensa operaria, etc. Segundo se diz à época o próprio governo do Estado Novo ficou alarmando com tal coisa, achando que poderia trazer grandes maleficios para a empresa e para o trabalho nacional, mas tal não aconteceu. O empresario limitou-se a aplicar um modelo já existente em paises mais desenvolvidos, onde as relações inter-laborais, eram vistas com outra preocupação social.


Em Outubro de 1966 com a morte D. Manuel de Mello, Jorge irá naturalmente ascender à presidencia da empresa, cargo que irá ocupar até 1975. No inicio dos anos 70, quando o Grupo CUF ja se preparava para assumir projecção internacional havia uma especie de cantilena que dizia assim: "Oh meu Portugal tão lindo,/ oh, meu Portugal tão belo,/ metade é Jorge de Brito, / metade é Jorge de Mello. Durante este periodo o Grupo para alem de uma constante aposta na modernizaçao das suas fábricas, procura novos processos de fabrico, estende de novo a sua actividade a outros sectores da vida económica, (Frio Industrial, Decoraçao de Interiores, Marmores, Casinos, Cargas e Descargas Martitimas, Montagens Industriais, Super e Hipermercados, Restaurantes e Refeitorios etc.). São efectuadas joint-ventures com reputadas empresas internacionais, caso da Mitsubishi nas fibras sintécticas, a Billerud no fabrico da Pasta de Papel, ou da Kawasaki nos estaleiros navais etc. Juntamente com esta medidas o Grupo CUF aposta na sua internacionalização sendo criadas as primeiras empresas no estrangeiro, casos da Interacid (Suiça), da Intercuf (Brasil), ou da Navelink (Suiça). A partir de 1973 essa mesma estratégia de internacionalização passa por um sério investimento no Brasil, onde a CUF pretende ganhar posiçao na industria adubeira, fabrico de tabaco, alimentação e construção/reparação naval. Ao mesmo tempo a Companhia continuava a participar nos maiores projectos de desenvolvimento económico nacional, caso no novo Estaleiro Naval de Setubal (Setenave) e do Complexo Industrial de Sines, na qual a CUF juntamente com a Sonap, começaram a construir a partir de 1973 uma refinaria de petroleos com uma produçao anual de 10 milhão de toneladas/ano. (que nos pós 25 de Abril passará para as maos a Petrogal). Esta é tambem a fase em que o industrial manda chamar a prestigiada consultora Mckinsey por forma a reestruturar um Grupo cada vez mais complexo, em que alguns dos seus sectores atingiram já a saturaçao de vendas no mercado interno, sendo necessario prescutar novos mercados, sectores a investir, e reconversao dos existentes.

Com o 25 de Abril de 1974 e as mudanças radicais ocorridas na politica e economia nacional, ditam no ano seguite a nacionalizaçao do Grupo CUF. Para se perceber a sua dimensao e importancia no tecido economico nacional refira-se apenas que nele trabalhavam mais de 110 mil pessoas, em mais de 150 empresas diferentes, que produziam mais de 1000 produtos diferentes, sendo responsavel por 5% de toda a nossa economia. Meses depois do 25 de Abril, o seu irmão José Manuel de Mello, encontra-se com Alvaro Cunhal na sede do partido, numa tentativa de chamar a atenção para o facto de que a destruição não levava a nada. Cunhal ouviu e concordou em parte. Segundo José de Mello "na altura as pessoas ouviam mas nao acontecia nada" Juntamente com o seu irmão, Ricardo Espirito Santo, Antonio Champalimaud, Jorge de Brito, Mario Vinhas e outros empresarios criar a MDE/S (Movimento Dinamizador Empresa/Sociedade) numa tentativa de lançar as bases de uma moderna economia liberal de tipo ocidental. Mas os tempos não estavam para essas coisas.

Após o 11 de Março de 1975 as condições politicas e sociais do pais agudizam-se e Jorge de Mello bem como os restantes empresarios nao ficam imunes aos novos ventos que se fizeram sentir. Assim a 12 de Março de 1975 o COPCON cerca pelas 18 horas a sede da CUF levando o empresario para Caxias onde ficaria detido durante uma semana. E so lá esteve esse curto perido graças à pressão exercida por várias personalidades nacional e estrangeiras, de onde sobressai a figura do Presidente da Republica françês Valérie Giscard d´Estang.

Em pleno PREC o dia a dia nas empresas era feito pelas comissoes de trabalhadores, que ontrolavam tudo e todos, efecuando longos plenarios onde era tudo era discutido e debatido. Perante tal cenario, Jorge de Mello sabia que naquele momento permanecer no pais, era perda de tempo. Preferiu não assistir ao golpe final desflorado em Setembro através do Decreto-Lei 457/75 na qual o governo nacionaliza por fim  CUF. Partirá para Suiça ali permanecendo três anos, seguindo depois para o Brasil para um exilio, que so acabará em 1980 ano que regressará definitivamente a Portugal. Fico  também dedicido pelos irmãos que dali para a frente, os negocios seriam repartidos. Numa entrevista o empresário explicou:

"Tem sido muito explorado o facto de sermos dois irmãos e de cada um ter o seu pequeno grupo. É que a nós foi-nos tirado tudo. Cada um de nós, o meu irmão, eu e as minhas irmãs recebemos como indemnizações aquelas titulos da divida pública, a 2,5% por 28 anos. Aquilo não dava para fazer muito: por isso, combinei com o meu irmão que cada um ia recomeçar tratando da sua vocação."

 Assim em 1980 Jorge de Mello, decide reinvestir em Portugal, para tal arranja um escritorio onde contava com uma equipa de 10 pessoas. Em 1982 adquire ao IPE - Instituto de Participações do Estado (organismo criado para gerir as empresaas intervencionadas pelo Estado aquando das nacionalizações de 1975) a Alco, empresa de transformaçao de sementes oleaginosas. Para tal teve de vender grande parte do seu património: Quinta de Ribafria, a Herdade do Peral, A Casa do Monte Estorl (que era do seu avó Alfredo da Silva) etc.

Nos anos seguintes o empresario construiu um grupo empresarial vocacionado para industria alimentar, adquirindo antigas empresas pertencentes à CUF, casos da Sovena e da Compal. Em finais dos anos 80 é constituida a Nutrinveste. Esta empresa tornar-se-á a holding do grupo Jorge de Mello para o sector dos oleos alimentares. Será sob a sua égide que em finais dos anos 80 principios de 90 serão adquiridas empresas como a Lusol, Tagol,  ou Fábrica Torrejana de Azeites, que irão catapultar a sua dimensao e volume de vendas. Apesar de ter dito "um empresário nunca se reforma. Não por uma questão de conquista, mas antes de continuidade" em inicios dos anos 2000 entregou os negocios da familia ao seu filho mais velho Manuel Alfredo de Mello.

Nos ultimos anos de vida, o empresário levava uma vida calma, dividida entre os jogos de tenis, cartas, e alguma batidas de caça. Porém em 2005 Jorge de Mello sofreu uma queda na sua casa do Estoril enquanto brincava com os seus labradores. Partiu o colo do femúr e teve de se sujeitar a um periodo de fisioterapia. Infelizmente no fim do perido de recuperaçao sofreu um AVC e entrou em coma. Só recuperou a consciência  meses mais tarde, ficando incapacitado de andar e de falar. Aos 92 anos partiu para sempre deste mundo deixando o seu legado. Fechou-se para sempre o derradeiro ciclo da história da CUF. A sua ultima morada é o Cemitério de S. Marçal onde foi sepultado no jazigo de familia.

Até sempre meu idolo!!!

Para rematar esta minha sentida homenagem deixo aqui um pensamento que se encontra no seu livro de memorias. Apenas akguem com inteligencia superior e dotada de um grande sentido de visão poderia escrever isto:

"E quanto à riqueza, conheci muitas pessoas em Portugal, de quem nunca se falou, que eram e são muito mais ricas do que eu. E é claro que bastava passar a fronteira para encontrar pessoas muito mais ricas e poderosas do que eu alguma vez poderia ser em Portugal. A ideia de riqueza é muito mais um produto da imaginação dos que não se sentem ricos. Um dia alguem me falou do homem mais rico de Potugal, ao que respondi que também já tinha sido disso, com a ironia de quem me conhece a relatividade desses atributos e desses titulos."


quarta-feira, 18 de julho de 2012

Placa Publicitária da COMPAL


Interessante placa publicitária com as dimensões de 13 x 11 cm feita em plástico a publicitar os sumos da COMPAL. Segundo me disseram estava numa antiga mercearia que tinha fechado há já alguns anos. Esta é de facto uma peça invulgar até pela qualidade do estado de conservação, devendo datar da década dos anos 70, possuindo ainda o "lettering" da época da CUF, em tons de dourado, sendo que na foto não é muito perceptível.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Forgão de Distribuição da COMPAL


Depois de ter sido apresentada uma breve história da empresa, depois da garrafa de sumo e respectivo copo, e depois da mostra de alguns anúncios, venho agora mostrar este achado muito curioso, que nos permite viajar no tempo até aos idos anos 60. Pena é que a foto não apanhe na íntegra este forgão de distribuição da COMPAL, (cujo o modelo é uma Morris J2) testemunha dos primeiros anos da empresa. Nesta época o slogan da empresa era já a famosa frase "Compal é mesmo natural" como se pode observar nas poucas letras expressas na foto. O Forgão em questão estaria provavelmente a abastecer este Restaurante, que se ainda existir com o mesmo nome deverá ser na zona de Almeirim.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Anuncios da COMPAL

Após um pouco da história da COMPAL achei que seria engraçado complementa-la com os anúncios da marca. Iremos observar maioritariamente anúncios dos sumos de fruta e das sopas enlatadas, que para a época marcou uma grande inovação, numa época onde já se começava a apostar em refeições rápidas. Sempre com o Slogan que passou a imagem de marca: "COMPAL é mesmo natural" mais uma parte da história da nossa publicidade que fica aqui retratada.


1967


1968


1970



quarta-feira, 17 de março de 2010

A COMPAL

Como é do conhecimento geral, Portugal, tem uma longa tradição na industria de conservas alimentares, especialmente no que se refere às conservas de peixe. País de vocação marítima, com uma larga costa, e possuindo uma larga frota pesqueira, teve como consequência natural, o investimento no sector conserveiro. As nossas conservas de peixe, eram reconhecidas a nível internacional, cujas exportações tinham grande impacto na nossa balança comercial.*

Numa nova óptica de industrialização, surgirá nos anos 30, as primeiras fábricas de processamento de conservas alimentares de frutos. O objectivo num pais como Portugal (até aí essencialmente agrícola), era o de promover uma interligação entre a agricultura e a industria, valorizando os recursos nacionais. Na sua maioria eram unidades industriais pequenas e pouco apetrechadas tecnologicamente. Talvez o facto mais curioso, terá sido o de que com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, e a consequente, reconversão ou destruição das industrias dos países envolvidos na Guerra, levaram os industriais portugueses a exportar o concentrado de tomate para diversos países, fazendo-o com grande sucesso, e ganhando bons dividendos. Esta nova realidade teve como consequência um "boom" deste tipo de unidades fabris, contudo a recuperação das unidades industriais por parte dos países tradicionalmente produtores deste tipo de produtos (casos da Itália, França e Hungria) bem como a exigência dos consumidores desses mercados ditou o fim da aventura exportadora e o desaparecimento de grande parte dessas unidades em finais dos anos 40, levando a uma reestruturação do sector.

Com a introdução de campos de ensaio, escolha e experimentação das variedades de tomate que melhor se adaptassem ao clima e solo português, a montagem de serviços de assistência e a introdução de métodos mecânicos na cultura do tomate, abriram-se novas perspectivas no sector. Deu-se então um ponto de viragem, com o aumento da produtividade e da qualidade deste fruto, assumindo contornos de cultura intensiva no Ribatejo, área que anos mais tarde seria beneficiada, com a criação da grande obra de rega do Vale do Sorraia.

Surge em 1952 a COMPAL - Companhia Produtora de Conservas Alimentares detendo um capital inicial de sete mil contos, dividido em acções unitárias de 1000$00, fruto de uma fusão de duas fábricas: a Sociedade de Fruta Liquida e a ENCA - Empresa Nacional de Conservas Alimentares. É considerada desde logo uma empresa inovadora, apostando nos métodos científicos, o que muito nos diz do tipo de accionistas (nomes sonantes da agronomia, técnicos superiores e até professores do ISA - Instituto Superior de Agronomia, complementado por proprietários rurais). O local escolhido para a implantação da fábrica é o Entroncamento, area forte de produção horto-frutícola. A estratégia comercial da COMPAL nesta primeira fase é especialmente dedicada ao concentrado de tomate, que estava em alta nos mercados internacionais. Por isso contacta com técnicos estrangeiros (alemães e italianos) numa óptica de transferência e aquisição de moderna tecnologia. Apesar dos normais problemas de funcionamento da nova unidade fabril, a COMPAL começa a ganhar nome, cresce, tanto no mercado interno como no externo para onde exporta parte da sua produção (Inglaterra e Noruega) em 1957 dando o mercado grandes sinais de vitalidade, aumenta a sua capacidade fabril. Mas desde cedo o projecto COMPAL revelou fragilidades em termos de capitais, fundamentais para uma industria deste tipo, que necessita de constante investimento na modernização das suas unidades, dinheiro esse que a empresa só consegue através de empréstimos bancários. O ano de 1958 e seguintes irão marcar um ponto de viragem, com um abrandamento das suas vendas, acumulação de stocks e problemas financeiros, em que os accionistas que poderiam ajudar a empresa, acabam por se desligar dela. A Administração procura soluções viáveis, passando uma delas por encontrar um novo accionista de referencia. Sabendo que a CUF se encontrava interessada em se expandir para sector alimentar começaram as negociações para a aquisição maioritária das acções da empresa em 1963 após uma visita do Dr. Jorge de Mello e de outros técnicos da CUF ás instalações da empresa.

Iniciava-se assim um novo ciclo da COMPAL, agora inserida no grande e diversificado grupo empresarial da CUF que a vai salvar da ruína e transforma-la numa marca de referencia no mercado nacional. A empresa passava a deter um maior acesso ao crédito (através do Banco Totta) chegam novos gestores e uma nova cultura empresarial. Logo de imediato é discutido um plano de expansão imediata pelo qual passava a construção de uma nova fábrica, que viria a construída em Almeirim sob a supervisão de outra empresa do Grupo: a Profabril. Esta fabrica arranca a todo o vapor no ano de 1964, com os mais modernos equipamentos que vieram de Itália. Asseguraram-se os destinos tradicionais do concentrado de tomate (Inglaterra, Canadá e Noruega) alargando também as exportações para países como R.F.A., Suíça e França. Diversificam-se as produções de sumos (laranja, alperce, pêra) e refrigerantes. No âmbito de uma nova e agressiva campanha de marketing (dirigida por outra empresa do grupo, a NORMA) surge em 1965 o slogan que gerações de portugueses conhecem: "COMPAL é mesmo Natural". Em 1967 a empresa começou a comercializar doces de fruta, bem como sopas enlatadas (segmento onde estava na vanguarda) latas de favas e ervilhas, puré de grão, puré de feijão etc. A distribuição da COMPAL é integrada na rede CUF/SONADEL o que significa chegar a zonas mais afastadas e menos rentáveis devido à enorme e eficaz cobertura que tal rede possuía, centra-se a produção na Fábrica de Almeirim. No final dos anos 60 verifica-se descidas consideráveis na venda do tradicional concentrado de tomate, e ganhos significativos, nas áreas dos sumos e conservas alimentares. Será devido a este declínio que a COMPAL vai procurar novas áreas diversificando-se ainda mais. Em 1971 entra em acordo com a Câmara Municipal de Cascais, e passa a ser a concessionária das Águas de Vale de Cavalos, firmando posição no negocio das águas de mesa. Por volta de 1973 e numa óptica crescente e internacionalização do Grupo CUF a COMPAL funda a COMBAL - Companhia Brasileira de Conservas Alimentares, de forma a penetrar no mercado brasileiro. Pouco antes da Revolução de Abril de 1974, a COMPAL, ira participar na constituição de uma empresa de dietética, a EURODIETÉTICA - Produtos Dietéticos e Alimentes, numa tentativa de entrar num mercado em crescimento e até então controlado pela DIESE, participa ainda na constituição da SUNEXPOR - Sociedade de Comercialização de Produtos Agrícolas, tendo como accionistas outras empresas do Grupo CUF e o Estado Português (veja-se um dos posts no meu blogue sobre a constituição desta empresa). Os tempos mudaram bem como as politicas e as conjunturas e essas empresas nunca chegaram a ver a luz do dia, tendo a COMPAL ficado a perder dinheiro. Com a nacionalização e desmembramento do Grupo CUF em 1975 a empresa voltaria a ficar de novo numa situação financeira difícil, passando para as mãos do IPE - Instituto de Participações do Estado, foi sobrevivendo às crises, à falta de capital e as indecisões dos poderes, foi reestruturada e privatizada em 1993 continua até hoje a ser uma marca de referencia.


* Registe-se que no ano de 1965, era das nossas maiores exportações cifrando-se em cerca de 1 milhão e 400 mil contos (a preços da época).