sábado, 27 de março de 2010

Franquias Mecânicas da CUF e S.G.

As Franquias Mecânicas, têm tão valor como um selo, com a vantagem de ser personalizadas. Existem na área da filatelia grandes coleccionadores deste tipo de carimbos que eram facilmente identificáveis nos envelopes das cartas, usadas maioritariamente por empresas, algumas reflectiam também também parte do seu historial, como aquelas que vos vou apresentar.


18/11/1965 - Franquia do Centenário da CUF


13/12/1967 - Franquia alusiva aos Adubos Compostos


21/4/1967 - Franquia alusiva ás Cargas da SG


20/6/1969 - Franquia dos 50 Anos da SG onde se pode ver o Vapor Lisboa o primeiro navio da companhia

Curiosidade: Postal dirigido ao Grupo Geral de Contabilidade da CUF



À primeira vista este é apenas um vulgar postal a preto e branco com um ar tropical. Pois bem a foto mostra-nos o Hotel Residencial Senador, cuja sua localização ficava em Novo Redondo (hoje Sumbe) em Angola, famosa, como se pode observar pelas suas corridas de automoveis, olhando com toda a calma da esquerda para a direita podemos ver um NSU TT, MINI, LOTUS EUROPA, BWM (talvez, o famoso modelo 2002 tii que na época era uma máquina infernal.) e um FORD CAPRI. Mas o mais curioso é que este postal está endereçado ao Grupo Geral de Contabilidade da CUF. Deixo-vos aqui esta curiosidade, que espero que gostem, e para quem não consiga ler o texto original, aqui fica transcrito:

Novo Redondo 6/7

Cá estou a dar noticias, até agora tive vários doentes e não há tempo para escrever. Já está tudo "very good". Hoje jogamos aqui e vamos novamente para Luanda 2ª Feira. Isto é lindo, estou a escrever na esplanada do Hotel e a vêr um pôr de sol de sonho, atravessa a rua é logo a praia

até breve - saudades

sexta-feira, 26 de março de 2010

Anuncios da COMPAL

Após um pouco da história da COMPAL achei que seria engraçado complementa-la com os anúncios da marca. Iremos observar maioritariamente anúncios dos sumos de fruta e das sopas enlatadas, que para a época marcou uma grande inovação, numa época onde já se começava a apostar em refeições rápidas. Sempre com o Slogan que passou a imagem de marca: "COMPAL é mesmo natural" mais uma parte da história da nossa publicidade que fica aqui retratada.


1967


1968


1970



quarta-feira, 17 de março de 2010

A COMPAL

Como é do conhecimento geral, Portugal, tem uma longa tradição na industria de conservas alimentares, especialmente no que se refere às conservas de peixe. País de vocação marítima, com uma larga costa, e possuindo uma larga frota pesqueira, teve como consequência natural, o investimento no sector conserveiro. As nossas conservas de peixe, eram reconhecidas a nível internacional, cujas exportações tinham grande impacto na nossa balança comercial.*

Numa nova óptica de industrialização, surgirá nos anos 30, as primeiras fábricas de processamento de conservas alimentares de frutos. O objectivo num pais como Portugal (até aí essencialmente agrícola), era o de promover uma interligação entre a agricultura e a industria, valorizando os recursos nacionais. Na sua maioria eram unidades industriais pequenas e pouco apetrechadas tecnologicamente. Talvez o facto mais curioso, terá sido o de que com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, e a consequente, reconversão ou destruição das industrias dos países envolvidos na Guerra, levaram os industriais portugueses a exportar o concentrado de tomate para diversos países, fazendo-o com grande sucesso, e ganhando bons dividendos. Esta nova realidade teve como consequência um "boom" deste tipo de unidades fabris, contudo a recuperação das unidades industriais por parte dos países tradicionalmente produtores deste tipo de produtos (casos da Itália, França e Hungria) bem como a exigência dos consumidores desses mercados ditou o fim da aventura exportadora e o desaparecimento de grande parte dessas unidades em finais dos anos 40, levando a uma reestruturação do sector.

Com a introdução de campos de ensaio, escolha e experimentação das variedades de tomate que melhor se adaptassem ao clima e solo português, a montagem de serviços de assistência e a introdução de métodos mecânicos na cultura do tomate, abriram-se novas perspectivas no sector. Deu-se então um ponto de viragem, com o aumento da produtividade e da qualidade deste fruto, assumindo contornos de cultura intensiva no Ribatejo, área que anos mais tarde seria beneficiada, com a criação da grande obra de rega do Vale do Sorraia.

Surge em 1952 a COMPAL - Companhia Produtora de Conservas Alimentares detendo um capital inicial de sete mil contos, dividido em acções unitárias de 1000$00, fruto de uma fusão de duas fábricas: a Sociedade de Fruta Liquida e a ENCA - Empresa Nacional de Conservas Alimentares. É considerada desde logo uma empresa inovadora, apostando nos métodos científicos, o que muito nos diz do tipo de accionistas (nomes sonantes da agronomia, técnicos superiores e até professores do ISA - Instituto Superior de Agronomia, complementado por proprietários rurais). O local escolhido para a implantação da fábrica é o Entroncamento, area forte de produção horto-frutícola. A estratégia comercial da COMPAL nesta primeira fase é especialmente dedicada ao concentrado de tomate, que estava em alta nos mercados internacionais. Por isso contacta com técnicos estrangeiros (alemães e italianos) numa óptica de transferência e aquisição de moderna tecnologia. Apesar dos normais problemas de funcionamento da nova unidade fabril, a COMPAL começa a ganhar nome, cresce, tanto no mercado interno como no externo para onde exporta parte da sua produção (Inglaterra e Noruega) em 1957 dando o mercado grandes sinais de vitalidade, aumenta a sua capacidade fabril. Mas desde cedo o projecto COMPAL revelou fragilidades em termos de capitais, fundamentais para uma industria deste tipo, que necessita de constante investimento na modernização das suas unidades, dinheiro esse que a empresa só consegue através de empréstimos bancários. O ano de 1958 e seguintes irão marcar um ponto de viragem, com um abrandamento das suas vendas, acumulação de stocks e problemas financeiros, em que os accionistas que poderiam ajudar a empresa, acabam por se desligar dela. A Administração procura soluções viáveis, passando uma delas por encontrar um novo accionista de referencia. Sabendo que a CUF se encontrava interessada em se expandir para sector alimentar começaram as negociações para a aquisição maioritária das acções da empresa em 1963 após uma visita do Dr. Jorge de Mello e de outros técnicos da CUF ás instalações da empresa.

Iniciava-se assim um novo ciclo da COMPAL, agora inserida no grande e diversificado grupo empresarial da CUF que a vai salvar da ruína e transforma-la numa marca de referencia no mercado nacional. A empresa passava a deter um maior acesso ao crédito (através do Banco Totta) chegam novos gestores e uma nova cultura empresarial. Logo de imediato é discutido um plano de expansão imediata pelo qual passava a construção de uma nova fábrica, que viria a construída em Almeirim sob a supervisão de outra empresa do Grupo: a Profabril. Esta fabrica arranca a todo o vapor no ano de 1964, com os mais modernos equipamentos que vieram de Itália. Asseguraram-se os destinos tradicionais do concentrado de tomate (Inglaterra, Canadá e Noruega) alargando também as exportações para países como R.F.A., Suíça e França. Diversificam-se as produções de sumos (laranja, alperce, pêra) e refrigerantes. No âmbito de uma nova e agressiva campanha de marketing (dirigida por outra empresa do grupo, a NORMA) surge em 1965 o slogan que gerações de portugueses conhecem: "COMPAL é mesmo Natural". Em 1967 a empresa começou a comercializar doces de fruta, bem como sopas enlatadas (segmento onde estava na vanguarda) latas de favas e ervilhas, puré de grão, puré de feijão etc. A distribuição da COMPAL é integrada na rede CUF/SONADEL o que significa chegar a zonas mais afastadas e menos rentáveis devido à enorme e eficaz cobertura que tal rede possuía, centra-se a produção na Fábrica de Almeirim. No final dos anos 60 verifica-se descidas consideráveis na venda do tradicional concentrado de tomate, e ganhos significativos, nas áreas dos sumos e conservas alimentares. Será devido a este declínio que a COMPAL vai procurar novas áreas diversificando-se ainda mais. Em 1971 entra em acordo com a Câmara Municipal de Cascais, e passa a ser a concessionária das Águas de Vale de Cavalos, firmando posição no negocio das águas de mesa. Por volta de 1973 e numa óptica crescente e internacionalização do Grupo CUF a COMPAL funda a COMBAL - Companhia Brasileira de Conservas Alimentares, de forma a penetrar no mercado brasileiro. Pouco antes da Revolução de Abril de 1974, a COMPAL, ira participar na constituição de uma empresa de dietética, a EURODIETÉTICA - Produtos Dietéticos e Alimentes, numa tentativa de entrar num mercado em crescimento e até então controlado pela DIESE, participa ainda na constituição da SUNEXPOR - Sociedade de Comercialização de Produtos Agrícolas, tendo como accionistas outras empresas do Grupo CUF e o Estado Português (veja-se um dos posts no meu blogue sobre a constituição desta empresa). Os tempos mudaram bem como as politicas e as conjunturas e essas empresas nunca chegaram a ver a luz do dia, tendo a COMPAL ficado a perder dinheiro. Com a nacionalização e desmembramento do Grupo CUF em 1975 a empresa voltaria a ficar de novo numa situação financeira difícil, passando para as mãos do IPE - Instituto de Participações do Estado, foi sobrevivendo às crises, à falta de capital e as indecisões dos poderes, foi reestruturada e privatizada em 1993 continua até hoje a ser uma marca de referencia.


* Registe-se que no ano de 1965, era das nossas maiores exportações cifrando-se em cerca de 1 milhão e 400 mil contos (a preços da época).

sexta-feira, 12 de março de 2010

Exemplos de publicidade de marcas concorrentes da CUF á epoca da Campanha do Trigo de 1929

Estava eu a ler o belíssimo livro, recentemente editado sobre a relações de Alfredo da Silva e Salazar, quando me deparei com o interessante sub-capitulo intitulado "O Comboio do Trigo", no qual é referida a Sociedade de Anilinas L.dª que em Portugal eram representantes da I.G. Farbenindustrie Aktiengesellschaft (na época um dos grandes agrupamentos do mundo da industria química) e do Stickstoff-Syndikat, G. M. B. H..

Lembrei-me de repente que tinha adquirido em tempos, anúncios deveras interessantes dessa firma, que tal como é descrito no livro detém à luz da época soluções gráficas inovadoras. Estes que vos passo mostrar têm a particularidade de serem Adubos Azotados, produto esse que ainda não era fabricado em Portugal, e que era para todos os efeitos uma lacuna na produção da CUF. Teria de se esperar até ao final dos anos 40 princípios de 50 para a existência de uma produção nacional de adubos azotados, tema sobre o qual me irei debruçar com maior detalhe num próximo post.

À semelhança do que aconteceu um pouco por toda a Europa de finais dos anos 20 inícios de 30 (ex: Battaglia Del Grano, Itália, 1925), numa época de pensamento em termos de auto-suficiência, quer seja a nível agrícola quer económica (aqui numa perspectiva relativa à substituição de importações, caso dos chamados trigos exóticos, que até aí eram essenciais ao abastecimento do país) também em Portugal se lançou aquilo que foi denominada pela Campanha do Trigo que teve o seu inicio em 1929. O então Ministro da Agricultura, Linhares de Lima, de forma a incentivar o cultivo do trigo, atribuía através do seu ministério subsídios aos agricultores que aproveitassem terras incultas e vinhas para este tipo de cultura. Foi um pau de dois bicos, se por um lado introduziu alguma modernização na agricultura portuguesas, (ex: introdução de novas técnicas e uso de adubos, assistência aos agricultores, escolhas de sementes, alargamento da área do cultivo) e que até 1935 nos dá sinais de boas produções e até excedentes, de aí para diante esta cai por terra, provando ser um erro, levando à erosão e cansaço dos solos bem como à destruição de florestas. O Estado só se voltaria a interessar pelo Alentejo nos anos 60, com a realização do vasto Plano de Rega do Alentejo, onde se propunha numa primeira fase a irrigar 170 mil hectares, numa tentativa de substituir as culturas de sequeiro pelas de regadio.

Estes anúncios para alem de publicitar as suas vantagens, tinham ainda o seu modo de emprego, dependendo do seu tipo de cultura:
Nitrophoska






Diammoniumphosphat IG e Leunaphos IG






Um exemplo de um outro folheto propagandístico


Alfredo da Silva, sabia claramente que a CUF se apresentava em desvantagem, face à concorrência, para isso rapidamente gizou o plano de se associar à então jovem I.C.I. (Imperial Chemical Industries) que era uma união de varias empresas químicas inglesas e que anos mais tarde se tornaria numa Multinacional de respeito na área. Será também a partir dessa época que a CUF passará a representar esta mesma empresa em todo o espaço português. Para colmatar a falta de adubos azotados a CUF, apresenta o Nitro-Chalk Fixe, fabricado pela I.C.I. que continha 15,5% de Azoto e 48 de Carbonato de Cal, e aqui vos deixo o prospecto de apresentação do produto, assim como o seu texto explicativo.