quarta-feira, 16 de setembro de 2009

A Morte de um Capitão da Indústria - José Manuel de Mello 1927-2009

O País ficou hoje mais pobre. José Manuel de Mello, homem integro, faleceu aos 81 anos. Fecha-se um Ciclo. Hoje em Portugal temos muitos empresários, mas Industriais, esses temos já muito poucos, e José de Mello foi um desses homens, que conheceu a Industria Portuguesa por dentro. Homem da geração dos grandes complexos industriais, da química pesada, dos estaleiros navais, á navegação, juntamente como o seu irmão (Jorge de Mello) continuaram a dinâmica, herdada dos seus antecessores no então Grupo CUF, dando-lhe grande impulso e vitalidade até 1975, ano derradeiro da nacionalização do grupo. Homem de desafios, começou cedo a sua vida industrial, aos 21 anos, já estava em Chipre, a tratar das exportações dos produtos da CUF para o Médio-Oriente. Desde cedo é um apaixonado pelo mar, tendo como sonho fazer uma volta ao Mundo num veleiro, quando nos anos 60 os irmãos são chamados a ocupar, cargos de administração na empresa, José de Mello, inclina-se de imediato para a área da navegação. Percebendo as potencialidades que Portugal poderia ter na Construção e Reparação Naval, lança-se no projecto da Lisnave, que foi verdadeiramente o primeiro empreendimento nacional totalmente virado para o estrangeiro, atraindo capitais de Suecos, Noruegueses e Dinamarqueses, surgindo a CUF como testa de ponte. Certo é que apenas passados 2 anos da sua fundação, em 1969 a Lisnave, detinha 30% da reparação mundial de navios até 300 mil toneladas, um feito histórico, tornando Almada na maior estação de serviço de navios a nível mundial. Rapidamente o projecto tornou-se pequeno, anos depois, é a vez de se pensar num gigantesco estaleiro no estuário do Sado (SETENAVE) vocacionado para a construção de navios, que viria a ser inaugurado já muito perto do 25 de Abril e que nunca produziu a 100% devido aos tempos conturbados do PREC das lutas internas e dos Choques Petrolíferos. Também a Lisnave se expande, de forma a controlar as rotas do petróleo, depois da Margueira, surge, Bahrein, Jeddah, ou Curaçau, mas também aqui a revolução cortou os pés ao seu futuro promissor, e amargurado com os sucessivos governos, abandona a empresa no ano 2000. Outra das suas paixões era a Banca, promove em 1961 a fusão do Banco Totta, com o Banco Aliança do Porto, dando origem ao Totta-Aliança, para anos mais tarde (1970) criar o Banco Totta & Açores, através da fusão do Totta-Aliança, com o Lisboa & Açores, no pós 25 de abril, voltará a banca, através da criação do Banco Mello, e depois através do BCP.
Nas vésperas do 25 de Abril o Grupo CUF encontrava-se num amplo processo de internacionalização, e sendo ela o expoente máximo do capitalismo em Portugal, foi pois natural que os irmãos Mello fossem alvos de invejas e ódios, nas manifestações desses tempos conturbados chegaram a ouvir-se expressões como "Morram os Mellos". O seu irmão Jorge foi preso a 12 de Março de 1975 e levado para Caxias, onde passou uma semana, enquanto o império CUF era desmembrado a golpes de decreto-lei, através das nacionalizações. Nesse mesmo dia José de Mello dirigia-se ao aeroporto, para uma reunião da Lisnave a efectuar em Paris, não embarcou no avião, sendo retido pelos militares que o mandam para casa. Nesse período tenta ainda criar com mais alguns empresários o MDES (Movimento Dinamizador Empresa-Sociedade) que pretendia apresentar um programa de evolução económica em democracia. Na voragem das nacionalizações restou-lhe apenas 14% da Lisnave, com o apoio dos seus parceiros estrangeiros. Nos anos 80 com o fim das restrições á iniciativa privada José de Mello volta a reinvestir, compra a Sociedade Financeira Portuguesa, e transforma-a no Banco Mello, no inicio da década de 90 paga 25 milhões de contos por 50% da Seguradora Império. Uns anos depois, com o sucesso da OPA do BCP ao Banco Mello, passa a deter nesta instituição bancária uma participação de relevo. Entretanto o Grupo José de Mello expande-se para área como a Brisa, a Saúde (Hospitais e Clínicas CUF) EFACEC etc.

Termino com uma frase de José Manuel de Mello que diz muito do seu pensamento.

"Queremos marchar na senda do progresso e da constante elevação do nível de vida. Só assim os nossos filhos e as gerações futuras compreenderão a nossa acção, pois só assim seremos coerentes com o próprio desejo de trabalhar na dignificação da pessoa humana"

4 comentários:

Anónimo disse...

grande homem !!!!!!!!! tudo deu a classe operaria , logo na decada de 70 censurado , hoje as grandes empresas nem metade dao os empregados ,nem pagam impostos ,mas tb nos tempos que correm ele "ele nao queria voltar para a ilha" hoje com esta nova ditadura da uniao europeia o nosso Heroi ficaria louco com tanta "merda" que a nova ditadura exige para o nosso povo poder trabalhar , a sua alma que descanse em paz

Anónimo disse...

Estive com ele horas antes de entrar em coma. Foi o meu último patrão. Grande homem e grande líder.

Anónimo disse...

Sou filha de um Serralheiro Civil da Lisnave. Nasci em 1973. Sou de Almada. A empresa onde o meu pai trabalhou - a Lisnave - tinha campo de férias para os filhos dos trabalhadores. Tinha piscinas para os trabalhadores/famílias. Formação Profissional para os trabalhadores (o meu pai fez o 12ºano lá). Tínhamos clinica medica só para nós (não tínhamos que ir para o Centro de Saúde). Éramos uns privilegiados e... e, depois vieram as invejas e os sindicados ("sempre pelos trabalhadores") que nos tiraram tudo e ficámos com ordenados em atraso. 1984 foi um ano terrível. Pais de família suicidaram-se porque foram muitos anos sem ordenado (e sem as ajudas que hoje há). E os Mello e os nossos governantes ficaram no bem bom... (maldita Banca) quem ficou a perder (já na altura - uma grande crise!!!) foi Portugal

Ricardo Ferreira disse...

Minha cara senhora

Se os Mellos ficaram no bem bom nos anos 80, não lhe sei responder a isso, ate porque ficaram a espera de ideminizações do Estado das quais nunca chegaram a ver a luz do dia. E a democracia tem coisas bonitas como esta: na época das reprivatizações quem quisesse a aquela empresa X tinha de a pagar (mesmo que esta tivesse sido roubada em nome do povo em 1975). Uma coisa é certa se a Lisnave deu lucro, e foi uma peça chave da economia nacional permitindo dar os trabalhadores inúmeros serviços de beneficência todo o mérito tem de ir para os Mello que foram efectivamente os criadores de todas essas regalias a que muito no pós 25 de Abril apelidaram de "paternalismos" gente que obviamente cuspiu na sopa que lhe deram, mas isso são outras histórias. Sei que a Lisnave poderia ter sido ainda maior se os sucessivos Governos dos anos 70 e 80 não tivessem virado as costas a uma das grandes riquezas deste país, a actividade marítima, sendo também os grandes culpados pelo seu desaparecimento. E é pena muita pena que assim tenha sido.