quarta-feira, 28 de novembro de 2007

O Grupo CUF e as Auto-Estradas

O Governo de Marcello Caetano liderado por tecnocratas, cedo se apercebeu que devido ao seu avultado custo, não poderia ser o Estado a construir a futura rede de auto-estradas. Desta forma opta por lançar em 1971 um concurso público para a construção e exploração das novas auto-estradas, criando-se para esse efeito uma concessionária juntamente com a respectiva duração da concessão.

Bases do Concurso

- Menor tarifa de portagem
- Menor montante de empréstimos estrangeiros
- Maior montante de capital social
- Maior participação portuguesa na concessionária a ser fundada
- Menor prazo de duração da concessão
- Menor prazo de execução dos trabalhos de construção
- Melhor nível de estudos de carácter técnico e financeiro
- Negociação sobre a melhor quantia oferecida pelo lanço Lisboa - Vila Franca de Xira (construído em 1961)

Plano das Construções

- Conclusão da Auto-Estrada do Norte (Vila Franca de Xira – Carvalhos), numa extensão de 273 quilómetros

- Auto-Estrada do Sul, construção do acesso ao Futuro Aeroporto de Lisboa (Rio Frio) e o lanço entre o Fogueteiro e Setúbal numa extensão de 35 quilómetros

- Auto-Estrada da Costa do Sol compreendendo uma extensão de 20 quilómetros (Estádio Nacional – Cascais)

- Auto-Estrada Lisboa – Sintra, 20 quilómetros

- Auto-Estrada do Oeste entre Lisboa e Malveira, numa extensão de 20 quilómetros

- Auto-Estrada do Porto a Braga e Guimarães, numa extensão de 57 quilómetros

- Auto-Estrada do Porto à Povoa de Varzim, numa extensão de 23 quilómetros

- Auto-Estrada do Porto a Penafiel, numa extensão de 32 quilómetros.


O projecto resulta assim numa rede de 480 quilómetros de Auto-estradas, onde seria também integrada os lanços anteriormente construídos. Estimava-se, segundo este plano a entrada ao serviço desta rede entre os anos de 1973 e 1982. Para o efeito o Governo criou uma comissão de técnicos para analisar as várias propostas levadas a concurso. A comissão era presidida pelo Eng. Manuel Duarte Gaspar, presidente da J.A.E. Dr. Luís Pires Cabral da Procuradoria Geral da Republica, Eng. Fernando Barbosa Perdigão e Eng. Manuel Pinto Serrão direcções do Serviço de Construção e do Gabinete de Estudos e Planeamento da J.A.E.

Foram três as propostas apresentadas a concurso:

- Grupo Internacional Brisa
- Grupo CUF
- Consórcio Luso-Hispano-Italiano

Vejamos pois a formação dos três grupos concorrentes:

Grupo Internacional Brisa

Sociedade de Empreendimentos e Infra-estruturas Interbrisa S.A.R.L.

Consorcio Financeiro:

• Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa
• Banco Fonsecas & Burnay
• Credito Predial Português
• Crédit Franco-Portugais

Empresas Nacionais:

• Sociedade de Empreitadas Somague S.A.R.L.
• SEOP – Soecidade de Empreitadas e Obras Públicas S.A.R.L.
• EMPEC – Empresa de Estudos e Construções Lda.

Empresas Estrangeiras

• Sir Alfred McAlpine and Son Ltd. (Inglaterra)
• S.A. Conrad Zschokke (Suiça)
• Societé Française de Travaux Publics Fougeroulle S.A. (França)
• Societé Général d´Entreprises S.A. (França)
• Societé Routière Colas S.A. (França)
• Bec Frères S.A. (França)
• Finanzas y Projectos S.A. (Espanha)
• Técnica y Obras S.A. (Espanha)
• Ginez Navarro e Hijos Construciones S.A. (Espanha)


Grupo CUF

• Companhia União Fabril S.A.R.L.
• Lindsay Parkinson e Co. Ltd. (Inglaterra)
• W. e C. French Ltd. (Inglaterra)

Consorcio Financeiro

• Banco Totta & Açores S.A.R.L.
• Kleinwort Benson Ltd.
• (possibilidade de criação de um segundo grupo tanto de bancos nacionais como estrangeiros para assegurar os investimentos a realizar)

Consultoras técnicas:

• Owen Williams and Partners
• Profabril - Centro de Porjectos Industriais S.A.R.L.


Consorcio Luso-Hispano-Italiano

• Banco Pinto & Sotto Mayor
• Banco Português do Atlântico
• Liga Financeira S.A. (Espanha)
• Union Industrial Bancária S.A. – Bankunion
• Impresit-Impresa Italiana all Estero S.A.

Apresenta-se seguidamente as propostas das três empresas:

Grupo Brisa

• 65% de capitais nacionais sendo 35% de origem estrangeira
• 522,2 Km de extensão de percursos
• Execução da Rede em 12 anos
• 27 anos de concessão
• Participação do Estado em 10%
• Compra do troço da Auto-estrada Lisboa – Vila Franca de Xira ao Estado (500.000 em 4 prestações)
• Tarifas médias ($40 e $60 para veículos ligeiros e pesados)


Grupo CUF

• Valor do capital desconhecido (sendo que 24% seria do Grupo CUF e associadas, 20% Estado Português, Lindsay Parkinson e W. e C. French ambas com 23% e 10% para outra comparticipações internas))
• 446 Km de extensão (tendo apresentado 6 projectos diferentes)
• Execução da Rede em 12 anos
• 88 anos de concessão
• Participação do Estado até 20%
• Compra do troço da Auto-estrada Lisboa – Vila Franca de Xira ao Estado (400.000 contos em 10 prestações)
• Tarifas médias ($50 por veiculo)

Consorcio Luso-Hispano-Italiano

• Capital inicial de 500.000 contos
• 480 Km de extensão
• Execução da rede em 12 anos
• 35 anos de concessão
• Participação do Estado (desconhecida)
• Compra do troço da Auto-estrada Lisboa – Vila Franca de Xira ao Estado (400.000 contos em 10 prestaçoes)
• Tarifas médias ($45 por unidade movimentada)






Como se sabe quem veio a ganhar este concurso foi a BRISA que até hoje é a concessionária de parte da rede de Auto-Estradas de Portugal. Este foi um dos projectos do Grupo CUF que não tiveram sucesso como aconteceu no passado com o arrendamento da Linha Sul e Sueste nos anos 20, ou a tentativa de controlo da Companhia Portuguesa de Rádio Marconi em 1926.

O projecto do Grupo CUF para as auto-estradas se o analisarmos bem tem os seus prós e os seus contras:

- A favor poderemos enunciar a capacidade de auto-financiamento e de concretização, pois como se sabe o Banco Totta e a Profabril eram empresas do Grupo, o que tornaria o projecto menos dispendioso, apesar da necessidade natural de recurso a capitais estrangeiros.

- Contra temos de enunciar a extensão da rede de Auto-Estradas, foi o grupo que apresentou a menor extensão de quilómetros, já para não falar no prazo de Concessão onde muito se alargou perante os seus concorrentes, o concurso dizia explicitamente “menor prazo da duração de concessão”, tornando-se inviável.

O facto mais curioso é que hoje em dia o maior accionista nacional da BRISA é o Grupo José de Mello com 30% do seu capital e que detém também a CUF.

3 comentários:

Klatuu o embuçado disse...

Está interessante este blog, o tema não é comum na blogosfera.

Que tal uns posts sobre os empreendimentos no Ultramar e sobre as construcções de barragens também por cá?

Os melhores cumprimentos.

Ricardo Ferreira disse...

Caro Klatuu obrigado pelo interesse no blog. Quero que saiba que no futuro escreverei sobre os empreendimentos da CUF no Ultramar.

os melhores cumprimentos

Anónimo disse...

gostaria que se alguem tivesse fotos da construçao da auto estrada porto guimaraes da zona de silvares era um grande favor que entrasse em contacto para 969909858