Contudo a partir dos anos 60 assiste-se a uma cada vez maior procura das fibras sintéticas, que pudessem substituir matérias-primas tradicionais, como a juta, ou cairo, ou a lã. Em 1968 a subida vertiginosa dos preços da juta, nos mercados internacionais e a concorrência por parte de outros tipo de embalagens viram ditar uma reconversão e uma reestruturação da Zona Têxtil da empresa. Sabemos que ao longo da sua vida industrial a CUF esteve sempre a par de todas as inovações técnicas que rapidamente eram introduzidas no seu complexo industrial e a têxtil não foi excepção. Era necessário acompanhar os tempos, vivia-se numa era de petróleo barato, através do qual por processos químicos, era possível transformar-lo em fibras mais resistentes que as naturais (tais como o Nylon, o Rayon, ou o Terylene) ditando assim uma grande procura no mercado deste tipo de produtos. Não será por acaso que a CUF em 1970 coloca em funcionamento novas linhas de feltro, nova estrusão e tecelagem de ráfia de polipropileno (necessário à modernização do ensacamento dos adubos).
O ano de 1973 ficará para sempre conhecido pelo seu Choque Petrolífero, que encerrou segundo a opinião de muitos economistas, um período dourado da economia mundial com taxas de crescimento espectaculares. Era também o fim da idade da inocência, para os países produtores desta matéria-prima essencial à vida moderna, que se aperceberam do seu poder, aumentando o preço do barril a 300%. Este choque teve ter grandes repercussões directas precisamente nas industrias derivadas do petróleo, estaleiros navais, e na química.
Seria em Abril de 1973 (a crise petrolífera só iria ocorrer no final do ano) que o Governo concede á CUF ou a empresa a constituir, autorização para a instalação de uma unidade produtora de fibras acrílicas a instalar no Barreiro. Para o efeito foi constituída no dia 7 de Setembro do mesmo ano a F.I.S.I.P.E. - Fibras Sintéticas de Portugal S.A.R.L. com o objectivo de realizar e explorar a referida unidade.
É importante referir que na época o país debatia-se com dificuldades de abastecimento deste tipo de fibras. Observando o seu relatório de contas pretendia a empresa os seguintes objectivos:
- fomentar a difusão de novas tecnologias de laboração de fibras sintéticas
- contribuir para a exploração mais racional do equipamento instalado
- facultar meios de antecipação às tendências do mercado atribuindo novas perspectivas na comercialização e promoção dos produtos finais
- reforçar o poder contratual do sector têxtil nos mercados externos pela garantia de aprovisionamento de matérias-primas necessárias
Fases da Construção da FISIPE
Apesar das dificuldades acrescidas pelo aumento do petróleo e da escassez mundial dos seus derivados, a FISIPE lança-se de imediato no mercado português de fibras acrílicas. Em Junho de 1973 lançam a fibra "Vonnel" iniciando a sua comercialização em sistema de «pré-marketing agreement» acordado pelos accionistas, que desta forma importava e comercializava a fibra acrílica produzida no Japão pela Mitsubishi Rayon Company, vendendo-se de imediato 750 toneladas de fibra no segundo semestre do ano, e formaram-se contratos para o fornecimento de 4000 toneladas para 1974. Podendo assim observar que apesar da crise, a FISIPE teve logo de imediato uma grande aceitação por parte do mercado nacional. Mas a situação no ano seguinte deteora-se, a revolução do 25 de Abril, as convulsões sociais, a instabilidade do consumo, levou a uma queda na procura deste produto. chegando a haver cancelamentos de encomendas. Em 1976 com o arranque da laboração, ha uma recuperação, e daí para a frente a empresa tornar-se-á numa importante unidade de fabrico de fibras sintecticas, chegando mesmo a expandir-se para a vizinha Espanha em 2000 onde adquiriu uma unidade industrial com uma produção anual de 68 000 toneladas, encerrada no ano 2004 por não ser economicamente viável.
Quanto a capitais a FISIPE representaria uma das ultimas "Join-Ventures" firmadas pela CUF desta vez com o Grupo Mitsubishi. O capital desta nova sociedade era de 250 000 000$ sendo o valor subscrito pela CUF de 60% e para a Mitsubishi os outros 40%.
O Projecto desta nova unidade fabril, localizada nos terrenos do complexo do Barreiro, numa área a roubar ao Tejo iria ficar a cargo a duas outras empresas do Grupo CUF, a Profabril e a E.N.I. Contudo a conjuntura económica, seguido da revolução de Abril nao era a mais favorável para investimentos desta envergadura e a administração deparou-se com múltiplos problemas: atrasos nos projectos de engenharia, problemas de fornecimento de equipamento e materiais de construção de origem estrangeira, dificuldade no recrutamento de pessoal especializado, conflitos de trabalho, por parte dos empreiteiros ligados à obra etc.
Nos planos iniciais feitos através do programa PERT, estava prevista o arranque da fábrica em Maio de 1975, , devido à conjuntura que então se vivia em Portugal, e aos constantes atrasos do projecto inicial a FISIPE so iniciará a sua produção em 1976, trabalhavam na unidade cerca de 450 pessoas, aquando da sua inauguração estiveram presentes o Presidente da Republica e o Secretário de Estado da Industria Pesada Eng. Nobre da Costa.
Bibliografia consultada:
- Estatutos da FISIPE, 1973
- "Jorge de Mello - um Homem", Jorge Alves, Edições Inapa
- "Momentos de Inovação e Engenharia em Portugal no Século XX" Vol. III Cord. Manuel Heitor, José Maria Brandão de Brito e Maria Fernanda Rollo. (Cap. Sobre o Complexo Industrial da CUF no Barreiro) pp 242-285
- Relatórios do Conselho de Administração (1973/75)
1 comentário:
A FISIPE continua viva e com perpectivas interessantes para o futuro e nunca encerrou, nem deixou de pagar os salários.....
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