quarta-feira, 17 de março de 2010

A COMPAL

Como é do conhecimento geral, Portugal, tem uma longa tradição na industria de conservas alimentares, especialmente no que se refere às conservas de peixe. País de vocação marítima, com uma larga costa, e possuindo uma larga frota pesqueira, teve como consequência natural, o investimento no sector conserveiro. As nossas conservas de peixe, eram reconhecidas a nível internacional, cujas exportações tinham grande impacto na nossa balança comercial.*

Numa nova óptica de industrialização, surgirá nos anos 30, as primeiras fábricas de processamento de conservas alimentares de frutos. O objectivo num pais como Portugal (até aí essencialmente agrícola), era o de promover uma interligação entre a agricultura e a industria, valorizando os recursos nacionais. Na sua maioria eram unidades industriais pequenas e pouco apetrechadas tecnologicamente. Talvez o facto mais curioso, terá sido o de que com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, e a consequente, reconversão ou destruição das industrias dos países envolvidos na Guerra, levaram os industriais portugueses a exportar o concentrado de tomate para diversos países, fazendo-o com grande sucesso, e ganhando bons dividendos. Esta nova realidade teve como consequência um "boom" deste tipo de unidades fabris, contudo a recuperação das unidades industriais por parte dos países tradicionalmente produtores deste tipo de produtos (casos da Itália, França e Hungria) bem como a exigência dos consumidores desses mercados ditou o fim da aventura exportadora e o desaparecimento de grande parte dessas unidades em finais dos anos 40, levando a uma reestruturação do sector.

Com a introdução de campos de ensaio, escolha e experimentação das variedades de tomate que melhor se adaptassem ao clima e solo português, a montagem de serviços de assistência e a introdução de métodos mecânicos na cultura do tomate, abriram-se novas perspectivas no sector. Deu-se então um ponto de viragem, com o aumento da produtividade e da qualidade deste fruto, assumindo contornos de cultura intensiva no Ribatejo, área que anos mais tarde seria beneficiada, com a criação da grande obra de rega do Vale do Sorraia.

Surge em 1952 a COMPAL - Companhia Produtora de Conservas Alimentares detendo um capital inicial de sete mil contos, dividido em acções unitárias de 1000$00, fruto de uma fusão de duas fábricas: a Sociedade de Fruta Liquida e a ENCA - Empresa Nacional de Conservas Alimentares. É considerada desde logo uma empresa inovadora, apostando nos métodos científicos, o que muito nos diz do tipo de accionistas (nomes sonantes da agronomia, técnicos superiores e até professores do ISA - Instituto Superior de Agronomia, complementado por proprietários rurais). O local escolhido para a implantação da fábrica é o Entroncamento, area forte de produção horto-frutícola. A estratégia comercial da COMPAL nesta primeira fase é especialmente dedicada ao concentrado de tomate, que estava em alta nos mercados internacionais. Por isso contacta com técnicos estrangeiros (alemães e italianos) numa óptica de transferência e aquisição de moderna tecnologia. Apesar dos normais problemas de funcionamento da nova unidade fabril, a COMPAL começa a ganhar nome, cresce, tanto no mercado interno como no externo para onde exporta parte da sua produção (Inglaterra e Noruega) em 1957 dando o mercado grandes sinais de vitalidade, aumenta a sua capacidade fabril. Mas desde cedo o projecto COMPAL revelou fragilidades em termos de capitais, fundamentais para uma industria deste tipo, que necessita de constante investimento na modernização das suas unidades, dinheiro esse que a empresa só consegue através de empréstimos bancários. O ano de 1958 e seguintes irão marcar um ponto de viragem, com um abrandamento das suas vendas, acumulação de stocks e problemas financeiros, em que os accionistas que poderiam ajudar a empresa, acabam por se desligar dela. A Administração procura soluções viáveis, passando uma delas por encontrar um novo accionista de referencia. Sabendo que a CUF se encontrava interessada em se expandir para sector alimentar começaram as negociações para a aquisição maioritária das acções da empresa em 1963 após uma visita do Dr. Jorge de Mello e de outros técnicos da CUF ás instalações da empresa.

Iniciava-se assim um novo ciclo da COMPAL, agora inserida no grande e diversificado grupo empresarial da CUF que a vai salvar da ruína e transforma-la numa marca de referencia no mercado nacional. A empresa passava a deter um maior acesso ao crédito (através do Banco Totta) chegam novos gestores e uma nova cultura empresarial. Logo de imediato é discutido um plano de expansão imediata pelo qual passava a construção de uma nova fábrica, que viria a construída em Almeirim sob a supervisão de outra empresa do Grupo: a Profabril. Esta fabrica arranca a todo o vapor no ano de 1964, com os mais modernos equipamentos que vieram de Itália. Asseguraram-se os destinos tradicionais do concentrado de tomate (Inglaterra, Canadá e Noruega) alargando também as exportações para países como R.F.A., Suíça e França. Diversificam-se as produções de sumos (laranja, alperce, pêra) e refrigerantes. No âmbito de uma nova e agressiva campanha de marketing (dirigida por outra empresa do grupo, a NORMA) surge em 1965 o slogan que gerações de portugueses conhecem: "COMPAL é mesmo Natural". Em 1967 a empresa começou a comercializar doces de fruta, bem como sopas enlatadas (segmento onde estava na vanguarda) latas de favas e ervilhas, puré de grão, puré de feijão etc. A distribuição da COMPAL é integrada na rede CUF/SONADEL o que significa chegar a zonas mais afastadas e menos rentáveis devido à enorme e eficaz cobertura que tal rede possuía, centra-se a produção na Fábrica de Almeirim. No final dos anos 60 verifica-se descidas consideráveis na venda do tradicional concentrado de tomate, e ganhos significativos, nas áreas dos sumos e conservas alimentares. Será devido a este declínio que a COMPAL vai procurar novas áreas diversificando-se ainda mais. Em 1971 entra em acordo com a Câmara Municipal de Cascais, e passa a ser a concessionária das Águas de Vale de Cavalos, firmando posição no negocio das águas de mesa. Por volta de 1973 e numa óptica crescente e internacionalização do Grupo CUF a COMPAL funda a COMBAL - Companhia Brasileira de Conservas Alimentares, de forma a penetrar no mercado brasileiro. Pouco antes da Revolução de Abril de 1974, a COMPAL, ira participar na constituição de uma empresa de dietética, a EURODIETÉTICA - Produtos Dietéticos e Alimentes, numa tentativa de entrar num mercado em crescimento e até então controlado pela DIESE, participa ainda na constituição da SUNEXPOR - Sociedade de Comercialização de Produtos Agrícolas, tendo como accionistas outras empresas do Grupo CUF e o Estado Português (veja-se um dos posts no meu blogue sobre a constituição desta empresa). Os tempos mudaram bem como as politicas e as conjunturas e essas empresas nunca chegaram a ver a luz do dia, tendo a COMPAL ficado a perder dinheiro. Com a nacionalização e desmembramento do Grupo CUF em 1975 a empresa voltaria a ficar de novo numa situação financeira difícil, passando para as mãos do IPE - Instituto de Participações do Estado, foi sobrevivendo às crises, à falta de capital e as indecisões dos poderes, foi reestruturada e privatizada em 1993 continua até hoje a ser uma marca de referencia.


* Registe-se que no ano de 1965, era das nossas maiores exportações cifrando-se em cerca de 1 milhão e 400 mil contos (a preços da época).

4 comentários:

Anónimo disse...

E agora a compal fez falência tendo sido comprada pelo grupo sumol

Anónimo disse...

Veja bem se é mesmo assim. ou não será ao Contrário.

Anónimo disse...

Gostava de saber se o Engº Rito da Fonseca pertenceu aos quadros técnicos da empresa.

Ricardo Ferreira disse...

O Eng. Rito da Fonseca, accionista e funcionário superior da empresa pertenceu aos quadros da Compal entre os anos de 1954 a 1970 (data na qual pediu a reforma). Durante esse período ocupou diversos cargos na gestão/produçao empresarial da Compal