segunda-feira, 9 de julho de 2007

À memória de Alfredo da Silva 1871-1942

Como começo deste meu blogue, não poderia deixar de homenagear o homem que está por detrás do nascimento desta grande empresa com a sua biografia:

Alfredo da Silva, é ainda hoje um nome desconhecido para muitos portugueses. Aliás posso dizer que foi com grande espanto que aquando do programa de "Os Grandes Portugueses", verifiquei que o seu nome se encontrava no patamar dos 90 mais.

Nascido a 30 de Junho de 1871, em Lisboa, desde cedo foi um lutador. Filho de pais burgueses, com negócio estabelecido na baixa de Lisboa, cedo se apercebeu do seu jeito para os negócios. Seu pai tinha juntamente com o irmão uma firma de seu nome “Silva & Irmão” estando ligada ao comércio de móveis e colchoaria, abastecedora da Casa Real. Alfredo sendo o mais velho, tinha 3 irmãos: Ricardo, Maria Emília, e Alexandre, viviam num edifício da Praça D. Pedro V, sendo a mãe uma presença sempre constante.
O seu pai falece em 1885, sendo o primogénito, irá pois tomar em suas mãos a tarefa de zelar pelos interesses comerciais e financeiros da família.
Em 1887 Alfredo da Silva matricula-se no Instituto Industrial e Comercial de Lisboa, escolhendo o Curso Superior de Comércio, revelou também uma enorme apetência para as línguas dominando para além do francês o inglês e o alemão, acabando-o com a média de 15,7 valores no ano de 1891.

Mal acabado o curso, Alfredo da Silva lidera um grupo de accionistas na chamada questão do Banco Lusitano, do qual a sua família possuía uma carteira de acções. Após uma acesa disputa nas reuniões de accionistas, será convidado para o lugar de director desta instituição. Será também por volta deste período que os administradores da Carris convidam-no a realizar viagens a cidades europeias com fim de fazer estudos sobre a aplicação da tracção eléctrica na empresa. Será devido aos seus relatórios com pareceres favoráveis á instalação da tracção eléctrica, que se procedeu a electrificação, das linhas da Carris, e a consequente substituição da tracção animal (os chamados americanos) pela tracção eléctrica. Ainda por volta desta altura, comprou um lote de acções da C.A.F. (Companhia Aliança Fabril) situada no vale de Alcântara, e que fabricava velas e sabões, mas que se encontrava com grande dificuldades financeiras. Este laborioso período onde o industrial, se encontrava a frente do Banco Lusitano, no Conselho de Administração da Carris, e mais tarde como Administrador Gerente da C.A.F. foi sem dúvida o seu período de afirmação no mundo dos negócios.

Á frente dos destinos da C.A.F., Alfredo da Silva cedo sonhou, numa fusão entre a sua empresa e a C.U.F. (Companhia União Fabril) de Henry Burnay, que era também a sua grande rival. Porém será só em 1898 é que, essa fusão será concretizada, após um incêndio que muito danificou as instalações da empresa, sendo a C.A.F. integrada na C.U.F. Alfredo da Silva passa a ser o Administrador Gerente da C.U.F. a partir dessa data. Em 1899 foi decretada a chamada Lei da Fome, com o fito de aumentar a produção cerealífera do país, baseada no regime proteccionista, e uma forte pauta alfandegária. O industrial olhando para esta oportunidade, não a deixa escapar, até porque ele sabia, que Portugal tinha as matérias-primas necessárias para o fabrico de adubos, que muito seriam necessários para uma maior produção agrícola.
Porém será em 1907 que Alfredo da Silva, com a sua ampla visão, vão dar um passo de gigante para o crescimento da CUF. Ele sabia que eram necessários novos terrenos para a expansão das actividades fabris da empresa, e após ter visto alguns terrenos a sul do Tejo, acha o terreno ideal situado no Barreiro.
Este terreno, cuja propriedade era de uma antiga fábrica de cortiça (Bensaúde & Cª.) era perfeito para a futura expansão da empresa, possuía acesso aos Caminhos de Ferro do Sul e Sueste, com ligação ao Alentejo, onde se encontrava não só o centro cerealífero do país, bem como a possibilidade de recrutamento de mão de obra para as novas fábricas, possuía ainda ligação fluvial com a capital do país, localizando-se perto das rotas internacionais que cruzavam o porto de Lisboa.

O Complexo Industrial do Barreiro irá ser começado a construir em 1907, e logo em 19 de Setembro de 1908 inaugurava-se a sua primeira unidade fabril, a Extracção de bagaço de azeite. Apercebendo-se de que era necessário sacaria adequada para a comercialização dos adubos decide comprar a Fábrica de Tecidos Aliança, levando a sua maquinaria para o complexo do Barreiro, iniciando-se assim a C.U.F. no fabrico de tecidos de juta e linho. Será ainda neste ano que Alfredo da Silva, compra por 200 contos-ouro as participações de Henry Burnay.

Em 1909 a C.U.F. adquire no Porto, a fábrica de sabões e velas de Monteiro Santos e Cª no Freixo, para desta forma a empresa poder abastecer o norte e o centro do país.
Por volta de 1910, o complexo do Barreiro é já um grande centro fabril: fábrica de ácido sulfúrico, fábrica de adubos e armazenagem de superfosfatos, edifício para laboratórios, escritório técnico, armazém de aparelhos eléctricos e carpintaria; dois edifícios para armazéns de jutas, linhos, tecidos e sacos; fábrica de acido clorídrico, edifício da casa do guarda; edifícios para habitações e posto médico, bairro operário; edifícios para a fábrica de tártaros, armazém de azeite filtros e instalações de aquecimento no armazém respectivo.

Em 1912 a C.U.F. investe na produção de sulfato de cobre, essencial para a vinicultura, investindo também no enxofre. Durante este período a empresa tenta entrar no mercado espanhol, abrindo em Mérida uma agência encarregue das vendas nos seus produtos na Estremadura espanhola.
Durante a época da Iª Guerra Mundial atravessa algumas dificuldades em termos de abastecimentos de matérias primas para as suas indústrias, para além de a C.U.F. ser considerada pelos Ingleses de ser um investimento alemão em Portugal, isto porque um dos seus grandes accionistas (Martin Weinstein) era de origem alemã, vendendo o seu lote de acções a Alfredo da Silva.

Em 1918 sobe ao poder Sidónio Pais, é conhecido o seu apoio pelo industrial, que durante este período será eleito senador, e também designado para o Conselho Superior Económico. Com a guerra terminada, lança-se na criação de uma nova empresa, que será crucial para o futuro da C.U.F., de seu nome Sociedade Geral de Indústria Comercio e Transportes. Esta empresa fundada em 1919, iria ainda antes de se lançar no ramo dos transportes marítimos (1922), estava apta a adquirir ou fazer parte do capital de outras empresas que interessassem ao projecto de expansão da C.U.F., foi esse o caso da Casa Gouveia na Guiné. Assentava na exploração agrícola, centrada na palma, no mendobi (amendoim) e gergelim, que passariam a ser carregados em barcos da S.G. e passariam a ser transformadas em óleos comestíveis no Barreiro.
O após guerra em Portugal foi uma época muito complicada e turbulenta tanto em termos políticos como económicos, as greves eram uma constante, a instabilidade social enorme, onde grassava a fome. Neste período Alfredo da Silva escapará ileso a dois atentados, no terceiro em Leiria já não teve a mesma sorte, chegando a estar hospitalizado, soube-se que estes incidentes tiveram a marca de anarquistas.

Entretanto durante este período a Sociedade Geral entra na administração da Companhia do Congo Português, e em 1921 adquire a maioria das acções da Casa Bancária José Henriques Totta que a partir dessa altura passa a ser o centro financeiro do Grupo C.U.F.
Ainda em 1921 receando pela sua vida, decide ir para um exílio forçado em Madrid de onde só regressará em 1927. Á frente dos seus negócios deixará o seu sogro D. Manuel de Mello, recebendo este diariamente quer fosse por carta, como por telegrama as ordens necessárias para a administração do Grupo. Mesmo na sua ausência a C.U.F. crescerá, sendo instaladas as primeiras unidades de metalurgia do cobre e de cloruração e sintetização de cinzas de pirite, que são exportadas para utilização siderúrgica. Encontrava-se a frente da direcção técnica das fábricas do Barreiro o Eng. Eduardo Madaíl, substituindo o reputado técnico francês Auguste Lucien Stinville.

Em 1927 o Estado acaba com o monopólio dos tabacos, questão que há muito se arrastava, e que foi sempre de grande polémica. Assim Alfredo da Silva lança-se também no sector dos tabacos, para isso, funda A Tabaqueira, localizando-se a sua unidade fabril no Poço do Bispo.

Em 1929 a C.U.F. terá uma acção de relevo na chamada Campanha do Trigo, sendo a empresa uma das interessadas em promover os seus químicos e adubos, para isso chega mesmo a requisitar um comboio especial que percorria as vilas e cidades alentejanas, aumentando assim o seu numero de vendas. Aliás não será por acaso que Alfredo da Silva proporá a remodelação e ampliação da fábrica de superfosfatos, o incremento da produção de ácido sulfúrico, e a compra de moderno equipamento para a zona têxtil. Nesse momento a C.U.F. controlava já 50% da produção nacional de superfosfatos e em 1932 inicia-se no Barreiro a metalurgia do chumbo. Ainda nesse ano Alfredo da Silva será agraciado com a Grã-Cruz de Mérito Industrial, a partir de 1934, é eleito Procurador da Câmara Corporativa na sua primeira legislatura.

Em 1937, é a vez da C.U.F. se lançar no ramo da construção e reparação naval, após ter ganho a concessão do estaleiro da rocha conde de Óbidos, propriedade da Administração Geral do Porto de Lisboa. Esta aposta num sector novo para a empresa, está intimamente ligada à frota da Sociedade Geral, visto esta se encontrar em crescimento, e para alem de necessitar da sua manutenção, pois possuindo a C.U.F. um estaleiro, poderia não só reparar os seus navios como ainda lançar-se na construção de novas unidades para a sua frota. Além do facto de que neste período o estaleiro da C.U.F. iria ganhar grande importância, sendo o local onde se construíam lugres bacalhoeiros, arrastões de pesca entre outras embarcações, num período onde o Estado dinamizava o sector das pescas. Em 1940, no âmbito da política social da empresa, é criada a Caixa de Previdência do Pessoal da Companhia União Fabril e Empresas Associadas. De salientar, que uma das grandes preocupações de Alfredo da Silva, foi dotar na sua empresa, condições de trabalho e regalias, muitas vezes substituindo-se ao próprio estado, caso da Caixa de Previdência, dos bairros para trabalhadores, escolas primárias e nos cuidados médicos. Os salários que a C.U.F. oferecia eram acima da média, e os trabalhadores sentiam orgulho em trabalhar na companhia, os operários que muito respeito tinham por Alfredo da Silva alcunharam-no de pai-patrão. No complexo do Barreiro, surgiram um posto médico, campo de jogos, um cine-teatro, dispensa económica, vários refeitórios económicos para os trabalhadores, a sua obra social foi sempre crescendo, estando planeado á data da morte de Alfredo da Silva (1942) a construção de um Hospital para trabalhadores da C.U.F. inaugurado em 1945, localizado em Lisboa.

Em 1942, quinze dias antes do seu falecimento, funda a Companhia de Seguros Império, falecendo a 22 de Agosto desse ano. Foram muitas as pessoas que se deslocaram a seu funeral, entre personalidades da vida politica, amigos e muitos trabalhadores que o acompanharam até a sua última morada no Alto de S. João. Nesse momento a obra industrial criada no Barreiro empregava mais de seis mil empregados. Por voto expresso no seu testamento Alfredo da Silva desejava ser enterrado junto das suas fábricas, e para esse efeito em 1944 foi erguido um enorme mausoléu, onde os restos do industrial repousam até hoje.

Deixo como palavras finais as seguintes inscrições colocadas no seu mausoléu:

“Alfredo da Silva repousa junto da obra que criou e vela pela sua continuidade”

“A gratidão é o tributo singelo com que as almas simples pagam a quem lhes faz bem. Á respeitosa memória de Alfredo da Silva. Os operários do estaleiro naval”

7 comentários:

JJS disse...

Meu caro Ricardo,quero-te dar os meus sinceros parabêns por iniciares este teu projecto, do blog sobre a história do grupo C.U.F e do seu fundador Alfredo Silva.
Poderás sempre contar com a minha ajuda,e o meu blog "Alerta 1143" estará sempre de braços abertos de receber os teus fantásticos posts.
Saudaçoes Patrióticas

Anónimo disse...

este blog esta muito bom,gostei muito,Ricardo te dou os meus sinceros parabens agora vou dizer aos meus amigos para entrarem neste saite!*_*

Anónimo disse...

o que eu estava procurando, obrigado

flavio monteiro disse...

caro Ricardo queria dar-te os parabens por o blog sobre o barreiro e por mostrares o bem que o Alfredo da silva fez por esta terra magnifica que é o BARREIRO.

obrigado e um grande abraço amigo.
FlÁvio Monteiro
morador no barreiro junto a essa magnifica fabrica CUF

@JakiLira disse...

Muito bom o conteúdo!
parabéns!

Unknown disse...

O mais interessante e que o Ricardo nao andou na colonia da CUF.

Anónimo disse...

Sem dúvida que foi uma obra notável que legou ao País! Algumas dessas obras, tive a honra de poder usufruir delas (Bairro Operário, escola de formação, serviços sociais, e emprego). Notável trabalho do autor!